I SÉRIE — NÚMERO 24
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projetos, dos mais simples aos mais ambiciosos. Qualquer cidadão duvidaria da verdade dessas palavras, caso
hoje aqui as ousasse proferir.
Achariam, muito razoavelmente, que estava a esquecer-me das suas dificuldades, como aquelas que
também eles sentem no seu dia-a-dia, ou que estava esconder os problemas que todos sabem que o País teve,
e tem ainda, para resolver.
A verdade é que este ano orçamental não foi, de todo, um ano fácil.
É difícil conjugar o cumprimento de objetivos exigentes em matéria de défice com a reposição dos
rendimentos devidos, tal como é difícil combinar a resolução dos graves problemas adiados e escondidos do
setor financeiro com outros investimentos públicos importantes e o retomar de programas de modernização.
No entanto, apesar dessas e de outras dificuldades, ao fim de um ano de Governo e de um Orçamento, ao
fim de um ano de trabalho empenhado de todos os que fazem parte deste Governo — e como Ministra da
Presidência tive muitas oportunidades de o testemunhar —, podemos afirmar, com provas e números, que,
contra o pessimismo de muitos e o secreto desejo de alguns, cumprimos o Orçamento sem planos B ou
orçamentos retificativos e cumprimos, em geral, o que prometemos.
Aplausos do PS.
Isso mesmo traduziu-se na recuperação de rendimentos, nos salários e nas pensões, na reposição dos
mínimos sociais e na devolução progressiva da sobretaxa, como tinha sido prometido; traduziu-se na redução
da conflitualidade social, nas relações laborais e na sociedade em geral; traduziu-se no crescimento e no
aumento do emprego, pois no terceiro trimestre registou-se a mais baixa taxa de desemprego desde o primeiro
trimestre de 2011 e foram criados cerca de 90 000 postos de trabalho, face ao período homólogo; traduziu-se
no maior rigor e consolidação das contas públicas, com um défice que a Comissão Europeia prevê abaixo dos
3% para 2016, e no afastamento das sanções por incumprimento orçamental passado e a saída iminente do
procedimento por défice excessivo; traduziu-se no aumento das exportações de bens, com mais 6,6% no mês
de setembro, face ao período homólogo, mantendo o superavit da balança comercial externa; traduziu-se na
retoma de uma dinâmica Simplex, estendida a todos os ministérios, com 255 medidas programadas, algumas
das quais já hoje sentidas por muitas empresas e por muitos cidadãos; e, sobretudo, traduziu-se numa maior
atenção às pessoas, com maior previsibilidade e estabilidade nas suas vidas, mais sossego no presente e mais
esperança no futuro.
Aplausos do PS.
E tudo isto sem aumento da carga fiscal geral, optando-se pela sua redistribuição em termos que julgamos
socialmente mais equitativos.
Acredito, Sr.as e Srs. Deputados, e até entendo que tudo isto seja bastante diferente do cenário traçado por
quem achava que não era preciso fazer nada para que este Governo desse cabo de si próprio.
Para a oposição — e devemos agora recordá-lo —, este Governo nunca poderia ter apoio parlamentar
consistente, o Orçamento para 2016 teria sido chumbado em Bruxelas, o défice iria obviamente disparar, o
crescimento e o emprego iriam diminuir e seria quase certo um novo resgate. Numa palavra: iríamos ao fundo
como uma jangada de pedra num dilúvio de catástrofes anunciadas em contexto de desgraça e maldição. Porém,
não foi isso que aconteceu; o barco não afundou e ousou até trilhar novos caminhos, novos percursos.
Os resultados registados nas contas públicas, na recuperação económica e no emprego — já hoje aqui
lembrei — mostram que a nossa ousadia tem sido recompensada.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Orçamento do Estado para 2017, tal como o anterior, não agrava
desigualdades sociais; combate-as com políticas de inclusão e com uma atualização real das pensões.
O Orçamento do Estado para 2017 não trata a ciência como irrelevante, coisa de países ricos, ou a cultura
como um bem de luxo e, portanto, desnecessário. De facto, os orçamentos destas duas áreas crescem em 2017,
porque a cultura e a ciência são, para nós, o principal investimento no futuro e representam, além de tudo o
resto, uma forte ajuda à criação de riqueza neste País.
Os laboratórios colaborativos que vamos criar para estimular o emprego científico em estreita colaboração
entre instituições científicas e académicas e o tecido produtivo, social e cultural serão disso um bom exemplo.