I SÉRIE — NÚMERO 27
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com bom senso, o que, porventura, falta a outros, começando por garantir uma boa execução orçamental e a
estabilização do sistema financeiro, porque, ao fazê-lo, isso diminui o peso do que pagamos anualmente pelo
nosso serviço da dívida, fazendo uma boa gestão da dívida. Aliás, ainda há duas semanas antecipámos o
pagamento de 2000 milhões de euros ao FMI, o que reduz o encargo com a dívida em 40 milhões de euros em
cada um dos próximos anos.
Mas temos de fazer mais do que isto, porque, obviamente, não chega. Temos de prosseguir a reversão de
políticas, o que, ao longo deste ano, temos vindo a fazer, porque, efetivamente, só devolvendo rendimento às
famílias, criando melhores condições para o investimento e combatendo o desemprego é que asseguraremos
uma melhor sustentabilidade das nossas finanças públicas, melhores condições para o crescimento e melhor
sustentabilidade para podermos reduzir o nosso endividamento.
Não temos de fazer nada a nível europeu? Temos! Temos de fazer algo a nível europeu, mas não devemos
confundir o que é causa e o que é consequência. A dívida não é a causa, a dívida é a consequência de uma
disfuncionalidade que existe no euro.
Por isso, a prioridade em que temos insistido é na necessidade de resolver os problemas da convergência
económica.
Neste ano, concluímos 30 anos de participação na União Europeia. Temos 15 anos de convergência e 15
anos de estagnação prolongada e de divergência, quase todos os anos, com a União Europeia. É por isso que
temos centrado o debate nessa área, porque, se não resolvermos o problema da convergência, não
resolveremos o problema da dívida. Mesmo que houvesse uma solução para a dívida, sem resolver o problema
da convergência, ela seria sempre uma solução não definitiva e transitória.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Portanto, não confundamos causa e consequência e centremos as matérias
relativas à convergência.
Por isso, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, para nós, há uma questão muito clara, e temo-lo dito e redito:
não podemos aceitar que a União Europeia faça fugas para a frente, procurando convencer os cidadãos de que
está a resolver os seus problemas deixando para trás os problemas que estão por resolver. Não faz sentido…
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, estou a tentar concluir, mas, perante a complexidade da matéria
e o conjunto das questões, tenho alguma dificuldade.
O Sr. Presidente: — Percebo que as matérias sejam complexas, mas o tempo também foi largo.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, posso assegurar que vou fazer um esforço ainda maior para
concluir, mas não quero desrespeitar o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.
Para nós, é muito claro que novos avanços em novas áreas sem completar a União Económica e Monetária,
para nós, não é aceitável. E completar a União Económica e Monetária significa concluir a união bancária e o
sistema de garantia de depósitos, concretizar o pilar social da União Económica e Monetária e, sobretudo, dotar
a zona euro de uma capacidade orçamental que seja um instrumento efetivo para ser um novo impulso para a
convergência da economia portuguesa.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Para concluir, Sr. Presidente, citando a Sr.ª Deputada Lara Martinho, direi que
em época de grande incerteza só há uma forma de navegar: é ter firmeza no rumo que queremos atingir e não
incerteza quanto aos valores que temos de defender. E esses valores são os do humanismo, da solidariedade
e da fraternidade, porque esses são o corpo e a base do espírito da Europa.
Aplausos do PS.