I SÉRIE — NÚMERO 30
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regular não tem ocorrido. Há que registar que a última operação de desassoreamento relevante ocorreu há cerca
de 20 anos, o que conduziu a uma deterioração cada vez mais indisfarçável e insuportável das condições de
vida das comunidades piscatórias e dos valores ambientais, comprometendo, inclusive, o potencial turístico,
nomeadamente a náutica de recreio na ria de Aveiro.
Importa, pois, proceder a um desassoreamento que promova a regularização e navegabilidade dos canais,
que promova o reforço das suas margens, que promova, numa expressão, a estabilidade biofísica da ria.
Ora, valha a verdade, o anterior Governo, quatro anos depois de ter tomado posse, questionado,
designadamente pelos Deputados do Partido Socialista, sobre a situação do desassoreamento da ria de Aveiro,
limitou-se a responder, em 2015, que esse era, sic, «um problema complexo» e que se encontrava a avaliar em
conjunto a melhor abordagem para o problema. A avaliação em conjunto estava a ser feita pelos vários
Ministérios com competência sobre a matéria.
Temos a grata satisfação de tomar conhecimento de que o atual Governo, pela mão do Sr. Ministro do
Ambiente, logrou alcançar o que o anterior jamais havia alcançado, ou seja, garantir o financiamento para o
desassoreamento da ria de Aveiro. E fê-lo com a particularidade de ligar o desassoreamento à defesa da costa,
isto é, de garantir que a areia retirada à ria vá reforçar o cordão dunar — cerca de 1,5 milhões de metros cúbicos
—, alocando-a, portanto, às praias e aos leitos sedimentares. Trata-se de uma feliz opção, que permite fazer
aquilo que até agora estava vedado, isto é, que o Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso
de Recursos (PO SEUR) passe a financiar o desassoreamento da ria de Aveiro, garantindo, assim, a sua
realização.
A Sr.ª Susana Amador (PS): — Muito bem!
O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Foi já anunciado, e registamo-lo, que o desassoreamento da ria de Aveiro
irá constituir, e cito, «a maior empreitada do País na defesa do litoral e das lagoas costeiras, no quadro do
Portugal 2020» — não é demais enfatizá-lo e saudá-lo.
Assim, e terminando, Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o que propomos à Assembleia da República é
que esta reconheça a importância do desassoreamento da ria de Aveiro e que, através da aprovação do nosso
projeto de resolução e, presumo, dos demais projetos de resolução que se encontram apresentados, sinalize ao
Governo a importância desse desassoreamento, de modo a que o mesmo e a revitalização da ria de Aveiro
possam ser uma realidade. E sê-lo-ão.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Heloísa
Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Os Verdes apresentam à
Assembleia da República um projeto de resolução que recomenda ao Governo urgência no desassoreamento
da ria de Aveiro.
A ria de Aveiro, como já foi aqui referido, comporta uma diversidade biológica muito rica, própria dos sistemas
estuarinos. Nela, já foram identificadas centenas de espécies de invertebrados bentónicos, incluindo moluscos
e artrópodes, e também muitas espécies de peixes e aves, entre outras.
Estancar, por isso, a perda da biodiversidade, que é avassaladora ao nível mundial, é um compromisso que
todas as sociedades devem assumir. Para o efeito, a Convenção sobre a Diversidade Biológica, assinada na
Cimeira do Rio, em 1992, foi de extrema importância, mas fundamentais são todas as ações que se tomam a
nível regional e local para garantir a preservação e a salvaguarda das espécies e dos ecossistemas.
Ocorre que o assoreamento a que se encontra sujeita a ria de Aveiro é, justamente, uma clara ameaça à sua
biodiversidade, criando, designadamente, condições muito desfavoráveis à vida e à reprodução de várias
espécies.
Esse assoreamento, que se tem vindo a agravar, tem também repercussões sociais e económicas muito
sentidas pelas populações locais, em particular as ribeirinhas, na medida em que dificulta ou impede a atividade
piscatória e a apanha de espécies bentónicas, e também porque gera, em algumas circunstâncias, inundações