O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

12 DE JANEIRO DE 2017

3

Mário Soares abraçou desde cedo a política como vocação.

Enquanto jovem advogado, destacou-se pela defesa de vários presos políticos.

As corajosas atividades de oposição à ditadura, já travadas ao lado de Maria de Jesus Barroso, valeram-lhe

a prisão, a deportação e o exílio.

O lema de vida de Mário Soares foi sempre o mesmo: “só é vencido quem desiste de lutar”.

Em 1996, já tinha sido tudo: Ministro, Primeiro-Ministro, Presidente da República. E tinha o seu lugar na

História.

Contudo, atento às tendências de cada momento histórico e curioso em relação às novas gerações, preferiu

continuar a lutar e a pensar no futuro.

Lutou até ao fim e, com isso, deixa-nos um exemplo ímpar de cidadania política.

Se a política era a vocação de Mário Soares, a liberdade era a sua causa.

Mário Soares tinha a intuição dos grandes políticos e a visão dos grandes estadistas.

Antecipava os grandes movimentos do seu tempo e disso beneficiou o País, que assim melhor se posicionou

perante os desafios da História.

Foi antifascista durante a ditadura e anticolonialista quando a ditadura se dizia “orgulhosamente só”.

Desde o momento da sua chegada a Santa Apolónia, no “comboio da liberdade”, nunca perdeu de vista

aquilo que era, para si, o essencial.

Procurou sempre liderar os acontecimentos e o País inteiro acabou por apanhar o “comboio da liberdade”.

Como Deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República, honrou o parlamentarismo e a

atividade parlamentar.

Na qualidade de Primeiro-Ministro, deixou as bases do Estado social e a adesão à então Comunidade

Económica Europeia.

Foi Presidente da República entre 1986 e 1996. Nessa qualidade, prestigiou o Estado português e influenciou

o entendimento que temos hoje do cargo presidencial.

O Portugal democrático, tolerante e solidário, e o País do mar, europeu e aberto ao mundo, é o País de Mário

Soares. Isso é reconhecido pelos portugueses e pelos países amigos e aliados de Portugal, como temos

testemunhado ao longo destes dias.

Mário Soares era um democrata português e, nesse sentido, um cidadão aberto ao mundo.

O Partido Socialista, força estruturante da democracia portuguesa, do qual era o militante n.º 1, foi fundado

ainda durante o seu exílio.

Enquanto Secretário-Geral do PS, Mário Soares foi um dirigente influente da Internacional Socialista, o que

viria a contribuir, de forma relevante, para o sucesso da democratização portuguesa e da integração europeia

de Portugal.

Mas, mesmo enquanto Secretário-Geral do PS, não hesitou em ficar quase só para defender o seu

pensamento sobre Portugal e sobre a democracia.

Na Presidência da República esteve atento aos movimentos sociais e aberto ao mundo das ideias e da

cultura, com o qual teve sempre uma cumplicidade genuína.

Cometeu erros, certamente, mas sempre entendeu a política democrática como uma atividade apaixonante,

feita de vitórias mas também de derrotas, assente em escolhas claras e convicções fortes.

Todos estiveram, alguma vez, ao lado dele e contra ele. Ao mesmo tempo, todos lhe reconhecem a lealdade

com os adversários e a tolerância com a diferença.

Era laico, republicano e socialista e, ao mesmo tempo, presidiu à Comissão da Liberdade Religiosa, porque

sempre entendeu o pluralismo como um valor maior.

O seu exemplo de tolerância ajudou o País a unir-se e a reconciliar-se consigo mesmo, depois das tensões

próprias de uma ditadura longa e do período revolucionário que se lhe seguiu.

Se hoje Portugal se distingue na Europa e no mundo pelo seu grau de coesão nacional muito o deve ao

contributo liderante de Mário Soares.

O sentimento de perda é, assim, acompanhado por um sentimento de gratidão eterna.

Reunida em sessão plenária, a Assembleia da República assinala com tristeza o seu falecimento,

transmitindo aos filhos, Isabel Soares e João Soares, Deputado à Assembleia da República, à sua família e a

todo o Partido Socialista o mais sentido pesar.»