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12 DE JANEIRO DE 2017

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Para desenvolver Portugal é preciso conhecer Portugal e os portugueses, estudar a sua história, cultivar a

sua literatura, acarinhar os seus artistas, calcorrear o território e conviver com as pessoas, situar Portugal na

Europa e no mundo e não temer abrir Portugal ao mundo, pelo contrário combater o isolacionismo e o

obscurantismo. É preciso amar o povo e fazer da melhoria da sua condição o compromisso de todos os dias.

Isto nos ensinou Mário Soares, e por isso lhe devemos tanto.

Do fundo do coração, obrigado, Mário Soares!

Aplausos do PS, de Deputados do PSD e do PAN.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado André Silva.

O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Portugal

perdeu uma das figuras políticas mais marcantes dos séculos XX e XXI.

A História de Portugal da segunda metade do século XX é a história de Mário Soares, quer na oposição à

ditadura quer no pós-25 de Abril.

A sua luta pelos ideais democráticos iniciou-se ainda durante o período de ditadura do Estado Novo, tendo

defendido o Estado social com fulgor e paixão já depois da Revolução do 25 de Abril, e tendo conquistado, com

mérito, o respeito de todos, mesmo dos seus adversários políticos.

Mário Soares é uma figura ímpar na História portuguesa e europeia. Defensor dos direitos humanos,

combatente contra a ditadura do Estado Novo, defensor da democracia pluralista, líder partidário com projeção

internacional, várias vezes Primeiro-Ministro, um dos principais arquitetos da entrada de Portugal na

Comunidade Económica Europeia e Presidente da República.

Frequentemente polémico, era um inconformado, sempre com convicções fortes e com um grande sentido

de missão pelo País e pela Europa.

Sabemos também que tinha uma clara noção de que a sociedade portuguesa é um coletivo em constante

movimento, com pensamento crítico, com vontades, com sentimentos, conectada com o mundo e dependente

histórica e emocionalmente dessa mesma interligação.

Independentemente das imperfeições que tinha e dos erros que cometeu — afinal, somos todos seres

humanos, imperfeitos e errantes — Mário Soares ensinou-nos, a todos e a todas, que desistir não é o caminho

e que o futuro existe, desde que não deixemos de o sonhar.

E porque todos concordamos que a força não é o meio mais eficaz para a resolução de conflitos,

compreendemos também que os processos de libertação, por mais imperfeitos que sejam, são sempre a melhor

opção face a anos de guerra ou a séculos de domínio e opressão.

Apesar de se afirmar convictamente como laico, soube valorizar o ecumenismo, promover o diálogo e

defender a liberdade religiosa, tendo sido capaz de reconhecer o valor e a mensagem de vários líderes

religiosos, independentemente da religião que representavam, fazendo notar, por exemplo, a importância de o

Papa Francisco ter alertado o mundo de que a exclusão e a desigualdade social «provocarão a explosão da

violência».

Introduziu ele próprio o conceito de Presidência Aberta, retirando-se do Palácio de Belém para colocar no

mapa da atenção mediática várias cidades e regiões do País, procurando dar destaque a causas, preocupações

e visões do presente e do futuro das suas populações.

E, claro, é impossível falar de Mário Soares sem lembrar os inúmeros esforços que encetou no sentido de

trazer o ambiente e a ecologia para o tão merecido centro da discussão pública e política, alertando para o

perigo de um planeta à deriva e em declínio ambiental, pedindo com urgência que — e cito as suas próprias

palavras — «aqueles que têm alguma consciência ecológica e respeito pela natureza reajam ativamente e

consigam suscitar um movimento de opinião capaz de pressionar e abalar a indiferença dos governos e dos

poderosos».

A sua Presidência Aberta sobre o Ambiente — única até hoje — marcou várias gerações de ativistas e

contribuiu para o desenvolvimento de muitas organizações não-governamentais do ambiente, que continuam a

merecer hoje este tão importante reconhecimento.