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I SÉRIE — NÚMERO 37

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A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Mas não se entusiasmem já os arautos da desgraça, sempre prontos a

declarar a catástrofe iminente e tão contentes por fazê-lo, como aqui acabaram de demonstrar.

Não há nada na condução política ou económica do País que justifique esta especulação. Quem determina

agora a subida dos juros é quem antes conseguiu a sua redução: chama-se Banco Central Europeu.

Vozes do PSD: — Ah!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — E, por mais insondáveis que sejam os seus desígnios, nada têm de divino

ou de sobrenatural.

Os juros sobem porque a inflação alemã prenuncia um recuo da política expansionista do Banco Central

Europeu. Os juros sobem porque Portugal está a atingir a quota prevista pelo BCE para a compra de Obrigações

do Tesouro em mercado secundário. Os juros sobem empurrados pelos riscos na economia mundial e apesar

dos sinais da economia portuguesa.

Com a dívida pública nos 130% do PIB, é certo que os mercados são uma ameaça permanente à

solvabilidade do País, da mesma forma que o dominó da desagregação europeia põe em causa o frágil sistema

financeiro e, no limite, a própria moeda única.

Mas perguntam as Sr.as Deputadas e os Srs. Deputados: em que medida é que este reconhecimento das

ameaças externas que pairam sobre Portugal está relacionado com o debate sobre o destino do Novo Banco?

Em tudo! Porque um país que não controla o seu sistema bancário é um país incapaz de gerir a sua dívida

soberana ou o seu crédito interno. É um país menor, diminuído na condução da economia e na sua defesa em

caso de choque externo.

Aplausos do BE.

Vejamos, Sr.as e Srs. Deputados, alguns números: em 2015, os cinco maiores bancos do País detinham 84%

de todos os ativos bancários. Nesse grupo, há dois bancos portugueses — a Caixa e o Novo Banco — e três

bancos estrangeiros, repartidos entre capitais angolanos, chineses e espanhóis. Se o Novo Banco for vendido,

praticamente 70% da banca portuguesa de relevo ficará em mãos estrangeiras.

Esta não é a primeira vez que o País discute a importância dos centros de decisão nacionais e se há coisa

que a história provou é que só a propriedade pública garante o controlo dos setores estratégicos a partir de

Portugal.

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Muito bem!

A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Mas, Srs. Deputados, se a venda de mais um banco a capitais estrangeiros

seria uma ideia errada e também perigosa, o que dizer da sua entrega a fundos de investimento, verdadeiros

fundos abutre como a Apollo, a Lone Star ou a Fosun?

Conhecemos bem o modus operandi destes compradores e a imagem não é nada bonita. O que pretendem

é desmontar a carcaça do Novo Banco, executar as empresas devedoras, sugar o máximo de recursos o mais

rápido que puderem. Isto, é claro, sem falar nos trabalhadores, que têm sofrido na pele o duro percurso do Novo

Banco.

Lembramo-nos bem do que aconteceu na privatização da lucrativa seguradora da Caixa — a Fidelidade —,

vendida pelo Governo de Passos Coelho à Fosun. A Fidelidade foi paga com dinheiro dos seus próprios cofres

— mais uma privatização que hoje figura como uma estrela de Sérgio Monteiro no seu percurso do Governo de

Passos Coelho.

Aplausos do BE.

Mas regressemos ao Novo Banco: as propostas de compra apresentadas não significam apenas vender o

terceiro maior banco do País a um fundo abutre. Trata-se, sim, de pagar para entregar o terceiro maior banco

do País a um fundo abutre, e isso é, simplesmente, inaceitável.