13 DE JANEIRO DE 2017
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A única solução que protege o Novo Banco e o País é, por isso, a nacionalização, mas também ela não está
isenta de dificuldades ou exigências. A maior dificuldade está nas pressões da Comissão Europeia e do Banco
Central Europeu que já várias vezes demonstraram que põem o seu autoritarismo dogmático acima da
estabilidade do nosso sistema financeiro.
Face a essas chantagens e pressões que se avizinham, o Governo deve excluir definitivamente tanto a
liquidação do Banco como mais uma venda de favor. Não esquecemos o erro do BANIF!
Por outro lado, a grande exigência está em não repetir a má nacionalização do BPN. Os acionistas daquele
que era conhecido como o banco do PSD nunca pagaram pelas suas fraudes e os prejuízos continuam a eclodir
nas contas públicas.
Pelo contrário, a nacionalização do Novo Banco exige transparência, a começar pela rigorosa avaliação do
seu balanço, dos ativos e das garantias. Porém, já percebemos perfeitamente que o Banco de Portugal não
consegue, não é capaz ou não quer fazer essa avaliação.
Mas também não se podem iludir as dificuldades. A nacionalização do Novo Banco não será feita sem custos.
Falemos muito claro a este respeito: a recuperação dos 3900 milhões injetados pelo anterior Governo em 2014
é hoje tão improvável como era na altura, quando Passos Coelho prometeu custo zero para os contribuintes.
Era tudo propaganda de perna curta, como hoje sabemos e está comprovado.
Ainda assim, todos os dados disponíveis apontam para que a nacionalização seja a opção menos
penalizadora para o erário público, com uma vantagem inegável: uma vez pago, o Estado controla o seu banco
e pode geri-lo ao longo do tempo. Nas palavras de Manuela Ferreira Leite, também ela defensora da
nacionalização, embora em moldes diferentes dos que defende o Bloco de Esquerda, «quem paga, manda»!
Aplausos do BE.
Acima de tudo, impõe-se hoje uma decisão rápida e que acabe de vez com a instabilidade deixada por PSD
e por CDS no Novo Banco.
Sr.as e Srs. Deputados, se alguma coisa aprendemos com a crise financeira e com o caso BES, que é o
passado do Novo Banco, foi que só a propriedade e a gestão públicas podem fazer da concessão de crédito um
serviço e não um fardo para o País. Só rompendo com o passado do BES, que é o passado do Novo Banco, é
que o Novo Banco e a economia do País podem ter futuro.
Aplausos do BE.
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente José de Matos Correia.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção em nome do PCP, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: A situação do Novo Banco confirma a falsidade
do discurso da saída limpa feito pelo Governo PSD/CDS e torna cada vez mais clara a responsabilidade desses
dois partidos nas graves consequências que podem advir para o País e para os portugueses das decisões que
tomaram sobre o Grupo Espírito Santo e o Banco Espírito Santo.
Torna-se ainda cada vez mais clara a necessidade de uma decisão sobre o Novo Banco que o mantenha na
esfera pública em condições e de acordo com critérios que sirvam os interesses do País, do povo e da economia
nacional, que respeitem os direitos dos trabalhadores e os seus postos de trabalho, que salvaguardem os
depositantes e reforcem o sistema público bancário.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Perante a situação atual do Novo Banco, há duas primeiras afirmações que o
PCP considera fundamentais: em primeiro lugar, a de que a situação do Banco não se pode dissociar da
intervenção no BES/GES, da responsabilidade de PSD, CDS e Banco de Portugal, servindo os interesses dos
seus acionistas privados sem cuidar do interesse dos depositantes e do interesse nacional e comprometendo o
Estado com a aplicação da medida de resolução; em segundo lugar, a de que a resposta a dar aos problemas