I SÉRIE — NÚMERO 41
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área tão sensível como é esta e pelo encerramento de serviços de saúde por todo o País. Não é estranho, por
isso, que haja muito a fazer para, pelo menos, colocar as coisas como estavam antes de o Governo PSD/CDS
tomar posse.
Bem sabemos que os problemas são muitos e que não se resolvem de um dia para o outro, ainda assim
temos algumas preocupações que queríamos aqui deixar.
A primeira prende-se com o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro. Como sabe, Sr. Ministro,
cinco adjuntos do diretor clínico desse centro hospitalar demitiram-se em bloco em outubro do ano passado,
alegando divergências profundas no que diz respeito ao projeto que a administração atual pretende para esse
centro hospitalar.
Os clínicos demissionários já foram ouvidos na Comissão Parlamentar de Saúde, onde afirmaram existir falta
de respeito pelas carreiras, pelas hierarquias e pelas regras deontológicas. Segundo pudemos perceber, estes
profissionais terão sido substituídos em novembro por profissionais sem graduação adequada para os cargos
que foram ocupar, apesar de existirem muitos médicos com currículos suficientes para ocuparem os lugares de
direção.
Fala-se de mau ambiente no hospital, com manobras intimidatórias e perseguição. Aliás, a Seção Regional
do Norte da Ordem dos Médicos abriu um processo sobre o assunto e constatou que a situação em Vila Real é
crítica e está a causar grandes perturbações dentro do hospital.
Sr. Ministro, gostávamos que dissesse alguma coisa sobre as acusações que foram feitas na Comissão
Parlamentar de Saúde, nomeadamente, quanto às manobras de perseguição por parte da administração. Mas
importava também saber se, na perspetiva do Governo, este mau estar está, ou não, a causar problemas no
desejável funcionamento deste centro hospitalar e se está a ter reflexos ao nível da qualidade do serviço
prestado aos utentes, porque essa é a parte mais importante.
A segunda questão prende-se com o Hospital de Braga. O Tribunal de Contas apresentou, no final do ano
passado, um documento que revela que o Hospital de Braga, uma parceria público-privada, apresenta um
aumento do tempo de espera para consultas e cirurgias. Em 2015, os doentes esperaram, em média, 117 dias
por uma consulta, o que é, de todo, inaceitável, como o Sr. Ministro, certamente, reconhecerá.
Ainda segundo o Tribunal de Contas, a sociedade gestora opera desde 2011 e continuará, previsivelmente,
a operar até ao final do contrato, numa situação de falência técnica.
Como sabemos, até 31 de dezembro deste ano, o Governo vai ter de dizer alguma coisa, isto é, se mantém
ou não o contrato. Nesse sentido, seria importante perceber se o Governo pretende ou não manter o modelo de
parceria público-privada no Hospital de Braga ou se, finalmente, vamos ter uma gestão pública, como no nosso
entendimento seria desejável.
O Sr. Presidente: — O Sr. Deputado esgotou o tempo de que dispunha, pelo que já não pode exercer o
direito de réplica, mas o Sr. Ministro tem o direito de responder.
Tem a palavra, Sr. Ministro da Saúde.
O Sr. Ministro da Saúde: — Sr. Presidente, Sr. Deputado José Luís Ferreira, antes de responder à questão
concreta que coloca sobre os hospitais do Norte — o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro e o
Hospital de Braga —, permita-me que partilhe consigo uma reflexão que reputo de muito importante para a
compreensão das mudanças que estão a ocorrer no Serviço Nacional de Saúde.
O Sr. Deputado disse bem, e todos nós o reconhecemos, que o ponto de partida era muito difícil e muito
hostil às condições de trabalho no SNS. E o que temos hoje, Sr. Deputado, como já referi mais do que uma vez,
para além dos 4000 novos profissionais, é o maior número de médicos aposentados no Serviço Nacional de
Saúde. Foi um sucesso o programa de recrutamento de médicos aposentados. E porque é que foi um sucesso?
São médicos experimentados, médicos das carreiras médicas, são, em muitos casos, médicos especialistas em
medicina geral e familiar, conhecidos dos seus utentes. Temos, pois, hoje, quase 400 médicos aposentados a
trabalhar no SNS.
Mas, Sr. Deputado, também há dados, que são das ordens profissionais, não são do Governo, que dão conta
que o número de enfermeiros que emigraram em 2016 foi o mais baixo de sempre, foi menos de metade do
número de enfermeiros que emigraram em 2015. E muitos desses enfermeiros estão a vir diretamente para o