I SÉRIE — NÚMERO 53
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Já é sobejamente conhecido que o nuclear acarreta riscos e perigos ao longo da história, como demonstram
Chernobyl e, recentemente no Japão, Fukushima.
Portugal, nomeadamente o rio Tejo, não está livre deste perigo, atenta a proximidade da central nuclear de
Almaraz, que se situa a uma centena de quilómetros da fronteira entre Espanha e Portugal e que se encontra
em funcionamento desde 1981, ou seja, há 36 anos. Dada a tipologia e características da estrutura, o seu tempo
de vida útil deveria ter terminado no ano de 2010 e, agora, como é conhecido, é vontade dos seus proprietários
e do Governo espanhol prolongar a sua vida útil, através de um armazém de resíduos nucleares.
Portugal não comunga desta vontade ao recusá-la, conforme as votações expressas neste Plenário da
Assembleia da República.
Contudo, Sr.as e Srs. Deputados, em relação a este projeto em análise, a opção do atual Governo e de
Portugal, ao longo da história, tem sido sempre contra o nuclear, nomeadamente através da aposta nas energias
renováveis. Efetivamente, esta constitui a opção estratégica do nosso País e é neste quadro e nesta realidade
das interligações que o Governo tem apostado, nomeadamente com Marrocos, bem como no reforço das
interligações com a Europa, com o objetivo de criar um verdadeiro mercado europeu da energia, que não existe.
A nossa produção de eletricidade não tem nuclear, como é muito bem sabido, no entanto, Portugal compra
e vende energia no mercado ibérico de eletricidade, o denominado MIBEL, o que, dependendo das condições,
pode implicar, a cada momento, o recurso ao consumo de energia nuclear. Porém, devido à aposta nas
renováveis, esse recurso é muito baixo, tendo sido, no ano de 2016, de apenas 1,69% do total de energia
consumida.
É no quadro europeu e internacional que estas opções devem ser tomadas, no âmbito da política europeia
de energia, onde o tema do nuclear é debatido.
Portugal não é, nem pode ser, uma ilha do ponto de vista energético, e isso obriga a que as interligações
entre Portugal e Espanha sejam cada vez mais reforçadas, assim como com a Europa.
Compreendendo a pertinência do debate sobre o nuclear, a verdade é que, com as atuais interligações, não
é possível impedir a sua importação, visto não ser possível impedir, materialmente, a entrada de energia com
base na fonte. Contudo, continuaremos a defesa intransigente das energias renováveis, da sustentabilidade e
da eficiência energética.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, penso que a boa convivência entre
os parlamentares é algo muito saudável numa democracia como a nossa, mas isso não deve impedir que os
Srs. Deputados ou as Sr.as Deputadas que estejam no uso da palavra se façam ouvir. E, de facto, se olharem à
vossa volta, as Sr.as Deputadas e os Srs. Deputados verificarão que há muito ruído e muitas conversas que
poderão ter lugar fora do Hemiciclo. Muito obrigada.
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Costa Silva.
O Sr. António Costa Silva (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em relação à proposta
apresentada no projeto de resolução de Os Verdes, o PSD quer manifestar que, ao longo de vários anos, de
muitos anos, o PSD e os seus Deputados têm apresentado muitas propostas sobre esta matéria e têm-se
manifestado precisamente contra a produção de energia nuclear em Portugal. Aliás, têm sido muitos os
protagonistas com reconhecido mérito nacional e internacional.
O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Muito bem!
O Sr. António Costa Silva (PSD): — Essa manifestação do PSD, ao longo dos anos, existiu mesmo antes
de existirem alguns partidos que defendem esta causa.
O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Bem lembrado!
O Sr. António Costa Silva (PSD): — Portanto, o PSD esteve sempre na linha da frente da não produção de
energia nuclear em Portugal e teve sempre uma posição claríssima a esse respeito.