I SÉRIE — NÚMERO 62
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E o que aconteceu na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) é hoje particularmente claro, por
força do que disse o conselho diretivo ou a direção e por força do que disse, também, a associação de
estudantes.
A associação de estudantes, em momento algum, fez qualquer ameaça física, em qualquer momento fez
algo que não fosse o não associar-se a um evento, que é também algo que, em democracia, assiste a todos
aqueles que escolhem a forma como homenageiam e comparticipam na vida cívica.
Aplausos do PS e do BE.
Por isso mesmo, subscrevemos um voto em que se torna absolutamente clara a rejeição de qualquer atuação
que tenha levado à não realização da conferência do Prof. Jaime Nogueira Pinto, mas, simultaneamente, não
escamoteamos e não esquecemos a vontade de grupos — esses, sim, violentos, esses, sim, extremistas —
que, através de milícias de duvidosa legalidade e de claríssima e duvidosa compatibilidade com o sistema
democrático, disseram que queriam estar presentes. Esses, sim, representaram uma ameaça e, devo dizê-lo,
nos últimos dias têm ameaçado fisicamente membros da direção da Associação de Estudantes da Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas e todos aqueles que se opuseram.
O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Isso já não preocupa a direita!
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Efetivamente, devemos ser claros a identificar todos os adversários da
democracia e os estudantes da FCSH que hoje têm medo, receiam, devem saber que não são abandonados
pelo Parlamento português e que são acompanhados em todos os momentos, sendo também merecedores da
nossa proteção — eles e o Prof. Jaime Nogueira Pinto.
É isso que um Parlamento plural deve fazer.
Aplausos do PS e do BE.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Ainda pelo Grupo Parlamentar do PS, tem a palavra a Sr.ª Deputada Edite Estrela.
A Sr.ª Edite Estrela (PS): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas, Srs. Deputados: Dia Internacional da Mulher
— muitas pessoas perguntam se faz sentido.
A resposta é que faz sentido enquanto as mulheres ganharem menos do que os homens e tiverem de
escolher entre ser mães ou manterem o lugar de chefia; enquanto as mulheres não quebrarem o teto de vidro
que as impede de chegarem às instâncias de decisão; enquanto homens e mulheres não partilharem igualmente
as responsabilidades familiares e enquanto as mulheres trabalharem o mesmo do que os homens fora de casa
e o triplo dentro de casa; enquanto as mulheres forem as principais vítimas de violência doméstica e virem
devassada a sua intimidade em entrevistas de acesso ao mercado de trabalho; enquanto as mulheres tiverem
de esconder a gravidez e não gozarem a licença de maternidade com receio de serem despedidas; enquanto a
maternidade for encarada como um problema para os empregadores e não como uma mais-valia para a
economia e para a sociedade; enquanto forem necessárias as leis da paridade; e enquanto as mulheres, apesar
de profissionais bem preparadas e competentes, forem referidas na comunicação social por razões que nada
têm a ver com as suas ideias, profissões ou programas políticos, mas por causa da aparência, da cor do cabelo
ou do vestuário.
Faz sentido, porque a luta pela igualdade entre homens e mulheres é um processo feito de avanços e de
recuos, como aconteceu com as alterações à lei da IVG introduzidas pelo anterior Governo e que, em boa hora,
foram corrigidas.
O Sr. Presidente: — Já ultrapassou o seu tempo, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Edite Estrela (PS): — Termino já, Sr. Presidente.