I SÉRIE — NÚMERO 62
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Um em cada quatro jovens portugueses considera a violência no namoro uma forma de amor e 23% dos
rapazes considera as raparigas inferiores. Isto é intolerável e demonstra a urgência desta estratégia.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para apresentar o projeto de resolução do PAN, tem a palavra o Sr. Deputado André
Silva.
O Sr. AndréSilva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O crime de violência doméstica
representa um dos crimes com maior incidência em Portugal.
Para termos uma ideia, em 2015, registaram-se em todo o território nacional cerca de 27 000 ocorrências.
Este número representa uma preocupante média de 73 ocorrências por dia.
Estamos, portanto, perante um enorme flagelo social com graves consequências a todos os níveis para as
vítimas, o que merece uma resposta adequada.
O regime jurídico aplicável à prevenção da violência doméstica, à proteção e à assistência das suas vítimas
prevê a existência de salas de apoio à vítima, bem como informação à vítima nas esquadras da GNR e da PSP.
Contudo, verifica-se que, em muitas esquadras, esta sala de atendimento à vítima ainda não é uma realidade,
sendo certo que, na esmagadora maioria dos casos em que ela existe, não apresenta as condições adequadas
para receber estas vítimas.
A iniciativa que o PAN apresenta visa a obrigatória criação da sala de apoio à vítima em todas as esquadras
da GNR e da PSP, devendo estas salas apresentar condições dignas de atendimento e onde seja garantida a
confidencialidade neste que é um momento de frágil estado emocional ou físico.
Outra vertente importantíssima prende-se com a essencial e adequada formação dos agentes da GNR e da
PSP especificamente direcionada para o atendimento e o acompanhamento das situações de violência
doméstica de forma a haver um agente habilitado para este atendimento em permanência em todas as
esquadras do País.
Por último, e porque o fenómeno existe, não se pode continuar a permitir que agentes de segurança
agressores tenham contacto com vítimas de violência doméstica. Tem de haver, portanto, uma sinalização e
consequente afastamento de agentes de segurança agressores do contacto com vítimas deste crime.
O Sr. Presidente: — Para apresentar o projeto de resolução do Bloco de Esquerda, tem a palavra a Sr.ª
Deputada Sandra Cunha.
A Sr.ª SandraCunha (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Mais de 450 mulheres mortas em 12
anos e 526 tentativas de homicídio — são estes os números trágicos da violência doméstica em Portugal.
Em 2015, houve 26 815 participações às forças de segurança, ou seja, em média, 73 por dia e 3 por hora —
são estes os números trágicos da violência doméstica em Portugal.
Em mais de um quarto dos casos registados existiam ocorrências anteriores e perto de 40% foram
presenciadas por crianças — são estes os números trágicos da violência doméstica em Portugal.
Segundo o relatório anual de monitorização da violência doméstica, de 2015 — e cito —, «este foi o primeiro
crime mais reportado a nível nacional (…), representando 7,5% de toda a criminalidade registada pelas
autoridades policiais, e foi o crime mais registado no âmbito dos crimes contra as pessoas, representando 33%
da criminalidade registada nesta tipologia».
Sr.as e Srs. Deputados, muito já foi feito, temos de o reconhecer. Hoje, temos forças e serviços de segurança
mais sensibilizados e mais preparados para o atendimento, apoio e acompanhamento destas vítimas. Temos
agentes com formação, temos equipas de proximidade e temos salas de atendimento à vítima. Muito foi feito,
mas não chega.
Os números trágicos da violência doméstica, em Portugal, dizem-nos claramente que não chega. Temos de
fazer mais e melhor.
Temos de garantir que existam salas de atendimento à vítima em todos os postos da GNR e em todas as
esquadras da PSP e, para isso, a iniciativa que o Bloco de Esquerda hoje apresenta defende o reforço da criação
destas estruturas onde elas estão em falta por forma a garantir a cobertura em todo o território nacional.