I SÉRIE — NÚMERO 64
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O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Também para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro
Soares, do Bloco de Esquerda.
O Sr. Pedro Soares (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Importa que
todos tenhamos a perceção de que é importante avançar para esta reforma da descentralização, mas é preciso
que tenhamos os pés bem assentes no chão. Ou seja, não basta dizermos que estamos disponíveis para todos
os debates, é preciso fazê-los, é preciso promovê-los, e não é essa a disponibilidade que estou a ver por parte
de algumas bancadas deste Hemiciclo.
Reparem no seguinte: cerca de 70% dos nossos municípios têm menos de 30 000 habitantes e o que
constatamos hoje é que os presidentes de câmara desses municípios, e de muitos outros, são já os maiores
empregadores da sua área.
Neste momento, com este processo de descentralização previsto pelo Governo e que tem, pelos vistos, o
apoio da direita, esses presidentes de câmara serão também decisivos no emprego, nomeadamente nos centros
de saúde e nas escolas; serão fundamentais na determinação dos critérios para a atribuição de subsídios da
segurança social; terão funções nas comissões intermunicipais ao nível da distribuição de fundos comunitários
e de competências que estão muito para além da sua própria legitimidade municipal.
Estamos a asfixiar a democracia local e esta deve ser uma questão essencial, porque, que saibamos, menos
democracia local não significa melhor gestão pública, nem melhor administração da coisa pública. O que temos
de incentivar e incrementar é mais democracia local e para isso é preciso que haja escala, é preciso que haja
pluralidade. Contudo, temos as maiores dúvidas de que este processo de descentralização conduza a essa
mesma democracia local ou ao aprofundamento da democracia.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem agora a palavra o Sr. Deputado Carlos César,
do PS.
O Sr. Carlos César (PS): — Sr. Presidente, Sr. Ministro Adjunto, Sr. Secretário de Estado das Autarquias
Locais e Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Sr.as e Srs. Deputados: Queria fazer uma
intervenção final muito breve, em nome do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, para reiterar e salientar o
empenhamento do PS no processo de diálogo e de tomada de decisão que, assim o esperamos, concretize um
avanço histórico e significativo no processo de descentralização política para o nosso País.
Consideramos, em primeiro lugar, que este pode e deve ser um momento adequado para procurarmos e
alcançarmos os consensos que nos permitam progredir no desenvolvimento do acervo e da matriz constitucional
do Estado português em matérias de proximidade, eficiência e democraticidade da estrutura do Estado.
Aplausos do PS.
Em segundo lugar, entendemos que a circunstância de a generalidade dos partidos terem contribuído para
este debate, através da apresentação de projetos, é um bom sinal, independentemente de divergências
facilmente detetáveis.
A Sr.ª Susana Amador (PS): — Muito bem!
O Sr. Carlos César (PS): — Trata-se, afinal, de matérias excecionalmente relevantes para a boa governação
e para o reforço da cidadania. Não ignoramos que nesta Assembleia da República, como fora dela, há
sensibilidades diferentes sobre as virtualidades, os modelos e a intensidade da descentralização política. Por
isso mesmo, é propósito do Grupo Parlamentar do Partido Socialista ponderar todas essas contribuições, sem
acordos prévios ou preconceitos partidários, no trabalho que se seguirá no âmbito da comissão parlamentar
respetiva.
Procuraremos valorizar o que mais nos unir e não polemizar no que for motivo de desentendimento. Estamos
na linha da frente do consenso e do diálogo necessário, como sempre.