I SÉRIE — NÚMERO 64
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Por isso, temos de confiar, de forma prudente e serena, com respeito pela autonomia da escola e dos
professores, temos como desiderato melhorar o serviço público de educação, acrescentando qualidade,
especificidade e abertura ao meio escolar.
Sublinhe-se que esta reforma nunca irá desresponsabilizar o Estado do seu papel no sistema educativo,
social ou na saúde, o qual se manterá na senda prossecução de um Estado social e de bem-estar. Aliás — e
este Governo tem-no demonstrado à exaustão —, temos vindo a robustecer este Estado social.
Srs. Deputado e Sr.as Deputadas, Meus Senhores e Minhas Senhoras, esta reforma abre as portas de uma
nova ambição e valorização do poder local que está em posição de conhecer de um modo profundo as
assimetrias e necessidades sociais, bem como as aspirações das pessoas, que devem ser sempre a essência
da política. Por elas, temos de abrir esta porta reformista, a chave que a abre chama-se «descentralização»,
que rima sempre com democratização.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira,
de Os Verdes.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:
O Governo apresenta-nos hoje, para discussão, uma proposta que pretende proceder à transferência de
significativas competências do Estado para a gestão das autarquias e outras que ainda virão, como sejam a da
floresta ou a das áreas protegidas.
Como elemento central desta discussão, Os Verdes pretendem reafirmar que a descentralização, a nosso
ver, não deve perder de vista a criação das regiões administrativas e que deve ter como pressuposto a defesa
e a valorização da autonomia do poder local, sempre na perspetiva de melhor responder às necessidades das
populações e de promover a qualidade dos serviços públicos prestados aos cidadãos.
A descentralização não pode, nem deve, ser encarada como uma forma de desresponsabilizar o Estado
central das suas funções. A descentralização não pode ocorrer só porque o Estado não quer, ou não consegue,
dar resposta ao que pretende descentralizar. E, face à proposta que está em discussão, Os Verdes não podem
deixar de registar as muitas e sérias reservas e preocupações que ela nos oferece.
Em primeiro lugar, porque algumas destas transferências incidem em áreas que a nossa Constituição inclui
nas Funções sociais do Estado, desde logo, a saúde e a educação. Estamos, portanto, a falar de áreas que a
Constituição elegeu como fundamentais para a nossa qualidade de vida e bem-estar e que devem, por isso
mesmo, ser asseguradas de forma universal a todos os cidadãos e em todo o território.
Por outro lado, esta descentralização — diz-se na proposta — pretende aproximar a gestão dos cidadãos,
mas as propostas de transferência na área da educação, por exemplo, contrariam completamente este
propósito.
O Governo está a propor retirar competências que atualmente são asseguradas pelas escolas para as passar
para a gestão das autarquias. Sucede que quem mais perto está dos alunos, das famílias e quem melhor
conhece e domina os problemas das escolas são exatamente os órgãos das escolas e os professores.
Aliás, na área da educação, o atual Governo está a dar continuidade ao processo de municipalização que o
Governo anterior avançou em 15 municípios-piloto.
Mas, hoje, já nos vão chegando os ecos dos casos-piloto e as queixas dos professores são mais que muitas,
para além de a autonomia das escolas estar a ficar comprometida, como é o caso de Sousel, no distrito de
Portalegre, onde a autonomia da escola está a ser completamente posta em causa.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Acresce, ainda, que esta proposta pode potenciar uma gestão
desligada das estratégias políticas nacionais, onde age cada um à sua maneira no seu local, cada um por si.
Esta questão é particularmente importante, sobretudo ao nível da educação, da saúde, da cultura ou da
conservação da natureza.