17 DE MARÇO DE 2017
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Sr.as e Srs. Deputados, conforme já referimos anteriormente, não daremos ao Governo um cheque em branco
nesta matéria, queremos que ela seja discutida nesta Casa, assim como toda a legislação fundamental para a
concretização da descentralização.
Temos muitas dúvidas relativamente a muitas áreas que o Governo pretende descentralizar, porque uma
coisa é descentralizar e outra coisa é a desresponsabilização sobre funções que cabem ao Estado central e que
só o Estado as deve prestar. Para além disso, parece-nos que a proposta que o Governo aqui nos traz não é
uma proposta devidamente analisada, discutida com todos os parceiros, nomeadamente com os municípios.
Sr. Ministro, o Governo já deveria ter apresentado a esta Assembleia um relatório sobre a transferência e
delegação de competências levadas a cabo nos últimos anos, salientando as principais fragilidades e virtudes,
mas, do que percebemos, tal ainda não foi feito. Esperamos que seja realizado com a brevidade possível.
O Governo, desde a sua tomada de posse, em novembro de 2015, fala-nos de descentralização e da
importância que esta assume na sua política. Com o princípio estamos de acordo. Acontece que, do que se
percebe, muitas das competências que pretendem transferir para os municípios, referidas na proposta que hoje
aqui nos apresentam, nem sequer foram discutidas ou analisadas com os mesmos ou com os seus
representantes.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Bem lembrado!
O Sr. Álvaro Castello-Branco (CDS-PP): — Do que sabemos, o Governo criou grupos de trabalho para
discutir a descentralização, mas pouco ou nada avançou, e, segundo declarações públicas do Presidente da
Associação Nacional de Municípios Portugueses, nunca lhes apresentou documentação sobre a transferência
das competências que estamos aqui a discutir. Sr. Ministro, desse modo, não se compreende que o Governo
queira verdadeiramente promover uma descentralização, deixando de fora os principais protagonistas.
Como é que o Governo pretende, por exemplo, que os municípios procedam à avaliação e reavaliação de
imóveis, designadamente para efeito de liquidação do IMI (imposto municipal sobre imóveis)? A maior parte dos
municípios não tem meios para isso e as desigualdades nacionais, provocadas por interesses locais, podem ser
graves. Aliás, o Sr. Presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses já veio publicamente dizer
que as câmaras recusam ficar com a competência de avaliar e reavaliar os imóveis, para efeitos de liquidação
do IMI. Será pois, em nosso entender, aconselhável manter essa competência no Estado central.
Também a transferência dos imóveis destinados a habitação social, pertencentes ao Estado, para os
municípios será um presente envenenado para estes, caso não seja feita pelo Estado a reabilitação desses
imóveis que, na sua generalidade, estão num estado de grande degradação e, por isso, a sua receção tem sido
recusada por parte dos municípios.
Sr.as e Srs. Deputados, estas são algumas das nossas muitas preocupações. A descentralização nunca se
concretizará sem um comprometimento de todos, mas, acima de tudo, do Governo.
Contudo, não é isso que esta proposta de lei, que hoje aqui discutimos, comporta. Esperávamos,
sinceramente, mais de quem afirma reiteradamente que a descentralização é a pedra angular da reforma do
Estado.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra o Sr. Deputado João Vasconcelos, para apresentar o
projeto de resolução n.º 722/XIII (2.ª), do BE.
O Sr. João Vasconcelos (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: A
revolução de Abril, através da Constituição da República, consagrou uma das principais conquistas, o poder
local democrático, emanado da vontade popular das cidadãs e dos cidadãos deste País e que, há bem pouco
tempo, comemorou 40 anos de existência. Um poder local assente na legitimidade e na participação
democráticas, na autonomia e rejeitando o centralismo do poder central.
Durante os anos de chumbo do Governo PSD/CDS-PP, o poder local democrático sofreu um dos maiores
ataques de que há memória: foram subtraídos às autarquias milhões e milhões de euros, através do
incumprimento da Lei das Finanças Locais; os serviços foram drasticamente reduzidos ou degradaram-se de