I SÉRIE — NÚMERO 64
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forma calamitosa; foi ensaiada uma falsa descentralização e foram extintas mais de 1 milhar de freguesias a
nível nacional, a régua e esquadro, pela mão do Sr. Relvas.
A Constituição prevê a descentralização de competências para as autarquias, freguesias, municípios e
regiões, como órgãos diretamente eleitos pelas populações. Descentralizar é uma prioridade para democratizar
e desburocratizar o aparelho do Estado. Também é sabido que o Programa do tal Governo contempla
mecanismos de descentralização, mas sempre feita para municípios e freguesias, e que também prevê a
existência de uma nova autarquia, as áreas metropolitanas, eleitas por sufrágio direto universal, objeto de
descentralização de competências.
Se o Governo já tinha recuado em relação à reposição de freguesias extintas, constata-se novo recuo quanto
às Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto.
Embora crítico deste modelo, o Bloco de Esquerda sempre o poderia, e poderá, aceitar, pois uma efetiva e
verdadeira descentralização só se consumará com a criação das regiões administrativas. Defendemos,
inequivocamente, a regionalização, pois só com a eleição direta dos órgãos de decisão se atingirá da melhor
forma a descentralização administrativa e a democratização do Estado.
De qualquer modo, não avançando a regionalização, nada temos a objetar à instituição das áreas
metropolitanas como autarquias locais. O que se pede é um igual tratamento para todo o território nacional. Mas
até nas áreas metropolitanas o Governo recuou.
Estamos, hoje, a discutir várias iniciativas, do Governo e de partidos, e o Bloco de Esquerda não podia faltar
a este debate. Nada temos a objetar aos projetos apresentados pelo PCP e pelo PAN, mas o mesmo não
dizemos relativamente à proposta de lei, do Governo, e aos projetos do PSD e do CDS.
A proposta do Governo parece assentar no Decreto-Lei n.º 30/2015, do Governo PSD/CDS-PP, que procurou
materializar uma alegada descentralização, melhor dizendo, uma municipalização das funções sociais do Estado
nas áreas da educação, da saúde, da segurança social e da cultura. O Governo vai ainda mais longe noutras
propostas de descentralização de competências para os órgãos.
Se, em muitas destas áreas, a transferência de competências é pacífica para o Bloco de Esquerda, noutras
não aceitamos ou merecem-nos sérias reservas. Por exemplo, a gestão de pessoal na educação ou na saúde,
a gestão de recursos educativos, os jogos de fortuna e azar, a segurança alimentar, a gestão das áreas
protegidas e a avaliação e reavaliação de imóveis não devem estar no âmbito das competências municipais.
Onde o Governo diz «mata», o PSD e o CDS dizem «esfola», basta ver os seus projetos.
Protestos do PSD.
O PSD apresenta o figurino dos contratos interadministrativos, os quais foram alvo, durante o seu Governo,
de grande contestação, em especial no sector da educação.
Uma outra preocupação para o Bloco de Esquerda prende-se com a previsível falta de escala de recursos,
técnicos, humanos e financeiros.
Um outro aspeto inaceitável tem a ver com a descentralização de competências para as comunidades
intermunicipais.
Em suma, as propostas do Bloco de Esquerda assentam nos seguintes pressupostos: que a descentralização
de competências promova a democracia, a participação e capacidade de decisão cidadãs e, como tal, apenas
sejam recetoras de competências as autarquias locais (freguesias, municípios e regiões administrativas); que a
descentralização não englobe competências dos serviços públicos cujo exercício não recomende uma escala
municipal; que nas áreas urbanas possam ser criadas novas formas de organização territorial, como as áreas
metropolitanas; que a descentralização de competências tenha como objetivo manter a universalidade dos
serviços públicos; que a descentralização de competências proteja os direitos laborais dos trabalhadores; e que,
finalmente, se avance no caminho da regionalização.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra o Sr. Deputado André Silva para apresentar o projeto de
resolução n.º 725/XIII (2.ª), do PAN.