I SÉRIE — NÚMERO 82
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4 — O trabalhador nocturno não deve prestar mais de oito horas de trabalho num período de vinte e quatro
horas em que efectua trabalho nocturno, em (…)» determinadas «(…) atividades, que implicam riscos especiais
ou tensão física ou mental significativa: (…)».
Ex.mo Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Poderemos, assim, afirmar que, antes de se legislarem
eventuais alterações ou aperfeiçoamentos, a conciliação de interesses e o seu reflexo legislativo, plasmados no
Código do Trabalho, devem, em primeira instância, ser discutidos na concertação social e só depois,
ulteriormente, deve o órgão legislativo ser chamado a pronunciar-se.
Porém, as raízes revolucionárias dos proponentes levam a entender a conciliação de interesses como uma
contradição capitalista e, logo, há que aproximar a classe operária da revolução. E tudo isto é particularmente
válido no sacro ano do centenário da Revolução de Outubro e a poucos dias de mais um 1.º de Maio. Há, pois,
que disputar tenazmente a primazia revolucionária.
Independentemente das razões substantivas que levam o Bloco de Esquerda a escolher estes temas, não
pode, obviamente, o timing da escolha deixar de ser objeto de análise de carácter político. O primeiro aspeto a
reter é o de uma luta fratricida pelo domínio do mesmo espaço político. Aparentemente, o Bloco não quer deixar
aos comunistas a primazia no campeonato da pretensa defesa dos trabalhadores. Em nome do tão glosado
qualificativo da luta, há todo um eleitorado comum a disputar entre estas duas forças partidárias num combate
sem quartel, embora publicamente inconfessável.
Sem embargo, o segundo aspeto é estrategicamente mais abrangente. Uns e outros, embora apoiantes
inabaláveis do Governo socialista, procuram condicionar, na aparência, a sua ação, agindo como uma espécie
de «sovietes de pés de barro» que, por um lado, dão a sensação de liderarem a agenda legislativa e, por outro,
são de uma utilidade extrema ao Governo, quer na prossecução do seu Programa, quer na sua manutenção no
poder.
A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Muito bem!
Protestos do Deputado do PS Carlos César.
O Sr. Pedro Roque (PSD): — Uns e outros agem como «tigres de papel», reféns das alianças que firmaram
e que os manietam e das quais iludem libertar-se com iniciativas deste tipo que, inevitavelmente, estão
condenadas ao fracasso.
Aplausos do PSD.
Protestos dos Deputados do PCP Bruno Dias e Rita Rato.
O Sr. António Filipe (PCP): — É só «politiqueirice»!
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Soeiro.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Pedro Roque, nós, que aqui nos sentamos,
somos Deputados eleitos diretamente pelo povo. Esta Assembleia da República representa a soberania popular
e é nela que está a legitimidade democrática para tomar decisões, nomeadamente sobre a legislação laboral.
Houve uma revolução em Portugal que acabou com o sistema corporativo. Nós não vivemos num regime
corporativo…
Aplausos do BE.
…e este Parlamento não é uma segunda Câmara da concertação social!
Somos nós que temos a legitimidade democrática e a responsabilidade de fazer escolhas, ainda que o PSD
invoque a concertação social e haja, na prática, neste Parlamento, uma espécie de comité representativo dos
interesses patronais.