I SÉRIE — NÚMERO 82
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representativas. Sr. Deputado, já as ouviu? Já ouviu o que dizem os sindicatos sobre isto? Já ouviu os
trabalhadores por turnos? Já ouviu os relatos de vida dos trabalhadores noturnos? Conhece as propostas das
organizações representativas dos trabalhadores?
Sr. Deputado, não deve conhecer, porque não há nenhuma organização representativa de trabalhadores em
Portugal, não há nenhum trabalhador por turnos ou noturno que não reconheça que o regime que temos não
responde às suas dificuldades, que o regime que temos não reconhece a penosidade do seu trabalho, que o
regime que temos atualmente não garante aos trabalhadores por turnos e aos trabalhadores noturnos a
dignidade a que têm direito.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr. Deputado Pedro Roque, há ainda uma outra inscrição para pedir
esclarecimento. Pretende responder já ou no fim?
O Sr. Pedro Roque (PSD): — Se for possível, respondo já, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sendo assim, tem a palavra, para responder, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Roque (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Deputado José Soeiro, começo por agradecer as longas
questões que me colocou e por dizer que — e espero que a minha resposta seja mais curta do que as suas
perguntas — concordo consigo quando diz que nesta Casa está a representação popular. É esse o quadro
constitucional em que, felizmente, vivemos, é uma idiossincrasia de uma democracia liberal, em que todos nos
revemos. Este é o órgão legislativo da República Portuguesa e isso é absolutamente inegável.
A seguir, divirjo fortemente de tudo o que disse, sobretudo quando diz que a Comissão Permanente de
Concertação Social é uma espécie de câmara corporativa, o que não deixa de ser um paradoxo: temos a CGTP
(Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses) representada na câmara corporativa da República
Portuguesa, que é a concertação social. É absolutamente notável. E, de facto, isto reflete toda uma diferença —
e era interessante saber onde é que o PS se situa neste debate — entre duas visões de sociedade: uma, releva
a luta de classes, o trabalho contra o capital, e, de facto, nestes 100 anos da Revolução de Outubro, nada como
invocar bem essa diferença;…
Protestos da Deputada do BE Mariana Mortágua.
… outra, concilia os interesses, que está do lado do tripartismo, que é o leitmotiv da Organização Internacional
do Trabalho, que, também ela, fará 100 anos daqui a dois anos, e em que, de facto, os interesses são
representados pelo Governo, pelos representantes dos trabalhadores, pelos representantes das associações
empresariais, e é deste triângulo virtuoso que nascem os equilíbrios necessários para que a legislação laboral
possa, por um lado, conferir direitos aos trabalhadores e, por outro, beneficiar a economia e, em última análise,
os níveis de emprego de um dado país.
A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Muito bem!
O Sr. Pedro Roque (PSD): — Isso é fundamental, não basta encher a boca com os trabalhadores.
Protestos da Deputada do PCP Rita Rato.
Quando retiramos competitividade à economia, isso resulta inevitavelmente em piores condições de trabalho e,…
Protestos da Deputada do BE Mariana Mortágua.
…mais grave do que isso, em desemprego.