28 DE ABRIL DE 2017
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Este Parlamento tem a obrigação de responder não perante esses interesses particulares mas perante a
maioria e as dificuldades que as pessoas e a economia sentem.
O Sr. Deputado trouxe a este debate muitos lugares comuns, muita conversa, mas pouca reflexão sobre os
problemas que importa debater.
O problema da economia portuguesa, Sr. Deputado, não é a suposta falta de produtividade dos trabalhadores
portugueses, aliás, cada vez mais qualificados. O problema da economia portuguesa, Sr. Deputado, não são os
custos do trabalho, supostamente excessivos e que foram a obsessão do PSD e do CDS, num País em que
10% da força de trabalho vive em situação de pobreza, mesmo com um salário.
O problema da economia portuguesa não são salários exagerados, não são os custos de trabalho, nem é,
Sr. Deputado, a suposta rigidez do mercado de trabalho, das nossas formas de regulação das relações laborais,
como se o facto de introduzirmos na lei formas de organização do trabalho, nem é o facto de introduzirmos na
lei formas de organização do trabalho, como propomos, que sejam respeitadoras do trabalhador e que sejam
capazes de conciliar a vida com o trabalho. É esta a discussão que estamos aqui a ter, Sr. Deputado.
Nós não temos um problema de rigidez da legislação laboral; pelo contrário, temos um problema de
deixarmos na legislação laboral demasiados «buracos» que permitem a precariedade, de não olharmos para a
realidade que temos e de termos uma classe empresarial que não só se habituou a não respeitar a lei e a viver
isso de forma impune como se habituou a descartar a contratação coletiva e, portanto, a ter, cada vez mais, uma
força de trabalho precarizada e domesticada.
Aplausos do BE.
Os problemas da economia, Sr. Deputado, são fragilidades estruturais que precisamos de corrigir, é um perfil
de especialização da nossa economia que é assente em setores de baixo valor acrescentado e, sobretudo, num
modelo de baixos salários. Aquilo que precisamos de corrigir na nossa economia, Sr. Deputado, é o desperdício
de qualificações de uma economia, que é incapaz de absorver as competências que o próprio sistema formativo
tem vindo a criar em Portugal, é a falta de investimento, é o facto de o trabalho estar mal distribuído.
Sr. Deputado, nada mais falso do que dizer que um projeto de lei como este que o Bloco de Esquerda traz a
debate vai criar desemprego. Pelo contrário, estamos a falar de uma sociedade capaz de distribuir o trabalho e
de garantir condições de trabalho para todos, e isto é criação de emprego, é distribuição do emprego que existe,
é consideração pelo trabalho.
Justamente este é o ponto a que eu queria chegar, ou seja, o problema da nossa economia é o de que os
últimos anos foram anos intensos de desconsideração do trabalho, de desconsideração económica do
trabalhador, pelas alterações que o Governo PSD/CDS introduziu na legislação laboral e que significaram uma
transferência inédita de 3600 milhões de euros dos rendimentos do trabalho para o capital e também uma
desconsideração pessoal do próprio trabalhador. Foram introduzidas alterações na lei que significam formas de
amordaçamento e de humilhação dos trabalhadores.
Ora, nós não precisamos de empresas com regimes arcaicos de organização do trabalho. Por isso, o debate
que, hoje, aqui fazemos é também sobre quais são as modalidades de organização do trabalho de que Portugal
precisa, de que a nossa economia precisa e, sobretudo, que sejam respeitadoras dos trabalhadores.
Há transformações na economia e na própria organização da vida social que têm feito crescer os setores, as
empresas e os serviços que funcionam em horários alargados. Ora, o desafio da lei é garantir que a estas
transformações não corresponde uma forma de abuso sobre as pessoas, que é, neste momento, o que acontece
com o trabalho por turnos. Precisamos, pelo contrário, de uma legislação que enquadre este tipo de trabalho,
respeitando, garantindo às pessoas o seu direito ao descanso, criando formas de organização do tempo de
trabalho que o compatibilizam com a vida social e com a vida familiar e reconhecendo o desgaste e a penosidade
de quem, todos os dias, está neste tipo de regime.
Mas sobre isto, Sr. Deputado, não o vi trazer aqui alguma proposta.
Protestos do Deputado do PSD Pedro Roque.
Dizer que o que está no Código do Trabalho chega é quase uma ofensa para com estes trabalhadores,
sobretudo vindo dos dois partidos — do PSD também — que disseram que era preciso ouvir as organizações