19 DE MAIO DE 2017
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Mas, Sr.ª Deputada, o Governo português não se vai demitir de continuar a acompanhar esta questão. E o
Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros já assumiu, em sede de comissão, que toma como orientação do
Governo a resolução que foi aprovada na Assembleia da República.
Em todo o caso, Sr.ª Deputada, permita-me que lhe diga, com toda a franqueza e sinceridade, que, em
matéria de opções energéticas, o Partido Socialista não aceita lições de moral, nem do PSD nem do CDS.
Aplausos do PS.
E, Sr.ª Deputada, muito menos aceita lições da sua parte, que, agora, vem aqui intitular-se quase uma
campeã das questões ambientais, quando, como Secretária de Estado da Defesa, nem teve capacidade para
resolver o problema da contaminação dos solos nas Lajes, na Região Autónoma dos Açores.
Aplausos do PS.
Mas ainda queria dizer-lhe o seguinte, Sr.ª Deputada: amanhã assinalam-se sete anos, porventura, sobre
uma das últimas declarações públicas que o então líder da oposição, que, coincidentemente, é o mesmo de
hoje, Dr. Pedro Passos Coelho, fez sobre a questão da energia nuclear. E, na altura, o que defendia o líder da
oposição — o mesmo de hoje — era que Portugal deveria debater seriamente a energia nuclear em Portugal.
Não foi na década de 80, foi em 2010!
Por isso, Sr.ª Deputada, a questão que coloco é a seguinte: da parte do PSD, podemos ter, nesta Câmara,
uma resposta absolutamente inequívoca sobre a sua indisponibilidade para continuar a aprofundar este debate
ou, na verdade, o PSD rejeita a central nuclear de Almaraz mas possibilita…
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.
O Sr. João Torres (PS): — … ou, no fundo, admite que seja construída uma no nosso País? Esta é a
pergunta que lhe faço.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Álvaro Castello-Branco.
O Sr. Álvaro Castello-Branco (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Berta Cabral, cumprimento-a por
trazer este tema de Almaraz a esta Câmara, pois, sem dúvida, como já há pouco tive oportunidade de referir, é
da maior importância e é um tema que muito preocupa o CDS.
Como sabe, o Governo incorre num erro que, teimosamente, mantém e que é o de considerar que a
construção de um novo armazém para resíduos nucleares não significa a intenção de o Governo espanhol
prolongar a vida da central para lá de 2020. Nem mesmo tendo na sua posse o relatório da APA, que, numa das
suas considerações, diz, textualmente, como todos os portugueses puderam ler ontem num órgão de
comunicação social, que, e cito, «a construção do novo armazém de resíduos viabiliza o prolongamento do
funcionamento da central nuclear de Almaraz, para além da atual autorização de operação, que termina em
2020», nem mesmo lendo este excerto desse relatório, o Governo perde a teimosia de insistir que uma coisa
nada tem a ver com a outra.
É claro para nós, CDS, que esse armazém, a ser construído, é o passo fundamental para o prolongamento
da vida da central para lá de 2020, conforme a Sr.ª Deputada acabou de referir, na sua intervenção. Em 2020,
esta central já em muito terá ultrapassado os limites de razoabilidade quanto à segurança e quanto ao risco de
acidente.
Por isso, o CDS, sendo contra o prolongamento da vida desta central — que muito nos preocupa o que possa
vir a acontecer, com o acordo tácito do Governo português —, é, obviamente, também contra a construção do
novo armazém de resíduos.