I SÉRIE — NÚMERO 89
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O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno
Coimbra.
O Sr. Bruno Coimbra (PSD): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, estamos realmente todos
de acordo relativamente à perigosidade que a central de Almaraz representa. Aliás, desde a década de 80 que
o PSD marcou a agenda política e a opção nacional pelo não nuclear, pela mão de Carlos Pimenta, e, portanto,
este é um tema que nos é caro.
Hoje, de facto, todos entendemos que, quer pela proximidade à nossa fronteira e ao rio Tejo, quer por ter
excedido largamente o seu tempo de vida, quer por terem ocorrido já diversos incidentes que têm vindo a público,
a central nuclear de Almaraz deveria mesmo estar encerrada. De tal forma estamos todos de acordo que
aprovámos por unanimidade, nesta Assembleia, uma resolução a recomendar ao Governo para intervir junto de
Espanha para que se encerre definitivamente a central nuclear de Almaraz.
Pelos vistos, estamos todos de acordo, só o Sr. Ministro do Ambiente é que não está de acordo. Primeiro, e
isto já lá vão vários meses, negou e desvalorizou os incidentes; depois, tentou culpabilizar outros; a seguir, fugiu
de uma tomada de posição coerente com a posição desta Assembleia; depois, reconheceu o problema do
armazém; a seguir, apresentou uma queixa em Bruxelas; retirou a queixa em Bruxelas; e, agora não dá o ok ao
armazém, mas vai dizendo que está muito mais descansado em relação a Almaraz.
São tantas as fintas do Sr. Ministro que eu acho que ele até se finta a si próprio.
Sr.ª Deputada, ouvindo a sua intervenção, tenho de facto algumas questões para lhe colocar.
Primeira: no seu entendimento, está ou não está, ou pode vir a estar, relacionada a construção de um
armazém de resíduos a um novo prolongamento da vida da central?
Segunda: hoje, estamos, ou não, em pior situação do que estávamos há uns meses na demanda que temos
pelo encerramento da central de Almaraz?
Terceira: como é que a Sr.ª Deputada avalia o desempenho do Governo português nesta matéria?
Por fim, Sr.ª Deputada, e permita também que lho diga: se diverge com tanta convicção, como nos mostrou,
das posições que o Governo tem tomado, como é que é capaz de o suportar politicamente também nestas
matérias? É verdade que as convicções são muito grandes,…
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe o favor de concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Bruno Coimbra (PSD): — … mas as conveniências têm-se sobreposto, no que diz respeito ao voto de
Os Verdes.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia,
dispondo, para o efeito, de 3 minutos.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, eu gostava de dar uma
resposta comum, se me permitem, ao Sr. Deputado Álvaro Castello-Branco, do CDS, e ao Sr. Deputado Bruno
Coimbra, do PSD — e vá-se lá saber porquê, a estes dois, não é verdade?
O Sr. Bruno Coimbra (PSD): — Então, explique lá!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — A verdade é que colocam a questão de uma forma completamente
enviesada. E isto porque já vamos em metade do mandato e os Srs. Deputados ainda não compreenderam
como é que funciona a Assembleia da República, mas percebo por que é que não compreendem. Não
compreendem porque a Assembleia da República, para os senhores, na anterior Legislatura, funcionava como
uma caixa de ressonância do Governo e, portanto, quando o Governo dizia «Ai!», os senhores aqui gritavam
«Ai!». Então, não compreendem como é que os grupos parlamentares podem afirmar as suas posições.
O Sr. João Oliveira (PCP): — É a democracia. Habituem-se!