I SÉRIE — NÚMERO 89
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Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Rui Cruz.
O Sr. José Rui Cruz (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Cumprimento os peticionários da petição
n.º 68/XIII (1.ª), aqui presentes, cujo primeiro peticionário é a União das Mutualidades Portuguesas.
Debatemos hoje o projeto de resolução, apresentado pelo PS, que pretende consagrar o Dia Nacional do
Mutualismo, dando assim expressão à petição apresentada neste Parlamento.
Há factos e circunstâncias que são tão presentes na vida de todos nós que não necessitam de um dia para
serem relembrados ou ainda porque tais factos e circunstâncias já têm no calendário das efemérides nacionais
a sua devida implantação.
Acontece que a proposta de um dia para a comemoração do mutualismo surge associada a um movimento
da sociedade portuguesa desde há séculos e que assume hoje uma importante fatia da nossa economia, para
além do apoio fundamental que presta ao Estado na sua função de proteção social.
O percurso histórico do mutualismo de mais de 700 anos deixou marcas indeléveis na sociedade portuguesa
ao longo dos tempos e talvez tenha até contribuído para a construção do espírito solidário, tolerante e cooperante
que é largamente reconhecido ao povo português.
O mutualismo, como forma alternativa e privada de solidariedade, contribui, de modo objetivo e decisivo, para
o respeito e aplicação dos mais básicos direitos constitucionais dos cidadãos.
É por isso relevante o seu reconhecimento pelo Código das Associações Mutualistas, que regula a
intervenção das respetivas associações, e pela Lei de Bases da Economia Social. É também relevante a forma
como quase uma centena de associações mutualistas espalhadas por todo o País assumem responsabilidades
coletivas de carácter social e se organizam de forma exemplar para prestar funções e serviços que, em primeira
instância, devem ser prestados aos cidadãos pelo Estado. O mutualismo é, portanto, um parceiro estratégico do
Estado na sua missão de proteção social dos cidadãos.
Para além do mais, existindo mesmo antes do Estado social, o mutualismo tem um importante legado de
boas práticas, modos de funcionamento e de conhecimento técnico em matéria de solidariedade e proteção
social que não podem deixar de ser reconhecidos como transversais na sociedade e pelo Estado. Além disso,
o mutualismo representa uma importante fatia da criação de emprego e dinamiza a atividade económica das
regiões onde se insere.
O Governo do Partido Socialista tem em curso um importante plano nacional de reformas em que o combate
à pobreza e à exclusão social são pilares fundamentais e que tem por objetivo tornar a sociedade portuguesa
mais justa equilibrada e coesa, e para esse desígnio estamos todos convocados.
É por isso mais do que justo o reconhecimento e a instituição de um Dia Nacional do Mutualismo, e o PS
congratula-se por trazer à votação nesta Assembleia tão relevante projeto de resolução, incentivando e
reafirmando desta forma a sua continuidade e a sua relevância económica e social.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Filipe Anacoreta
Correia.
O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Quero, em primeiro
lugar, saudar os 4607 subscritores da petição, na pessoa do Sr. Dr. Luís Alberto Silva, que está presente nas
galerias, presidente da União das Mutualidades Portuguesas.
As mutualidades são, a par das IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social), das Misericórdias,
das cooperativas e de outras entidades, os principais agentes da economia social que, como sempre temos
defendido, desempenham um papel essencial e indispensável na sociedade portuguesa.
Conforme foi revelado pela Conta Satélite da Economia Social (CSES), o valor real do terceiro setor na
economia nacional indica que cerca de 61 000 organizações empregam mais de 200 000 pessoas, representam
2,8% do valor acrescentado bruto (VAB) nacional, 5,2% do emprego total e 6% do emprego remunerado. O
mutualismo abrange cerca de 1 milhão de associados e cerca de 2,5 milhões de beneficiários. Mas acima de
tudo está a sua natureza que assenta na reciprocidade dos serviços e na entreajuda voluntária com total
ausência de fins lucrativos.