I SÉRIE — NÚMERO 89
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como a solidariedade, a igualdade, a honestidade e a transparência, a responsabilidade, a proteção, a cidadania,
a inclusão social.
O PSD é um partido humanista e personalista, que se preocupa com as pessoas, revê-se nos valores sociais
e de proteção que têm pautado o movimento mutualista, fator determinante no auxílio mútuo e na melhoria das
condições de vida dos seus associados.
As associações mutualistas desenvolvem diariamente um trabalho essencial e meritório, complementar aos
sistemas públicos de saúde e segurança social. Destaco, sobretudo, o trabalho desenvolvido em períodos de
crise económica e de valores, onde assumem um papel preponderante na assistência à população mais
vulnerável.
Importa exaltar as entidades da economia social, que assumiram um papel imprescindível ao longo de vários
anos, um papel que cabia ao Estado.
Assim, o Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata entende que institucionalizar o Dia Nacional do
Mutualismo é reconhecer todo o trabalho desenvolvido por estas instituições ao longo dos 720 anos da sua
existência.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Paulino Ascenção,
do Bloco de Esquerda.
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Saudamos, em primeiro lugar, os
peticionários e os representantes do movimento mutualista presentes nesta Câmara, saudação extensiva a
todos os membros — mais de 1 milhão — e a mais de 2 milhões de beneficiários.
Propõem os peticionários fixar o dia 8 de julho como Dia Nacional do Mutualismo, dia em que foi fundada
uma confraria de beneficência e socorro mútuo em Beja, em 1297. Há registo de outras confrarias similares,
eventualmente mais longínquas até no tempo, mas esta é a única com prova documental da data da sua criação.
O movimento mutualista mostra, assim, as suas raízes antigas, mas, tal como o conhecemos hoje, surgiu no
século XIX, sob inspiração dos pensadores socialistas e anarquistas, como forma de os cidadãos se organizarem
coletivamente para se protegerem da insegurança inerente ao sistema económico capitalista que então se
afirmava na sua face mais selvagem.
O movimento mutualista foi o precursor dos sistemas de seguros modernos, foi também o precursor do
Estado social, foi a primeira forma de resposta coletiva a problemas como o desemprego e a doença.
O mutualismo acabou por recuar com a afirmação do Estado social durante o século XX e passou a ter um
papel complementar. Mas, hoje, ganha de novo relevância dada a ofensiva contra o Estado social, guiada pela
ideologia neoliberal e patrocinada pelas instituições financeiras internacionais.
A globalização — parte desta ofensiva —, desenhada para servir os interesses da alta finança, as
deslocalizações selvagens, a precarização crescente, a desregulação das relações de trabalho criam, de novo,
a urgência de respostas sociais.
Mas o mutualismo vê-se, também ele, atacado, com, por exemplo, o Decreto-Lei n.º 190/2015, que o anterior
Governo meteu à pressão no fim da Legislatura, que prevê a transformação das caixas económicas em
sociedades anónimas. Portanto, transformar entidades da economia social, do setor mutualista, submetendo-as
à lógica especulativa do setor capitalista.
Por fim, quero sublinhar que o mutualismo tem uma dimensão de emancipação e é uma resposta coletiva a
problemas sociais que são, eles também, coletivos. Neste sentido, é um foco de resistência à ideologia
dominante do empreendedorismo, do consumismo e do individualismo exacerbado.
As práticas mutualistas regem-se por princípios de solidariedade, reciprocidade e inclusão, transparência,
democracia e cidadania participativas, pelo que concordamos que tão importante património merece um dia
nacional.
Aplausos do BE.