I SÉRIE — NÚMERO 90
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Não que estas recomendações sejam negativas, nós acompanhamo-las, mas, para clarificar, é bom separar
as coisas.
Ora, quando se fala em atrair alunos e investigadores estrangeiros, promover parcerias internacionais,
promover a ciência e a tecnologia nas universidades ou promover a qualidade da investigação em Portugal não
se está a falar de turismo. São propostas positivas e desejamos que se concretizem — com certeza! — mas se
vamos atrair alunos e investigadores estrangeiros — e muito bem! — vamos, primeiro, dar condições aos nossos
investigadores e alunos para que tenham a possibilidade de desenvolver o seu potencial no País, vamos reforçar
os orçamentos das universidades e dar condições de estabilidade profissional para que os nossos jovens não
tenham de sair do País por necessidade, que o façam para enriquecimento curricular mas que tenham sempre
a possibilidade de regressar.
Ter faculdades e laboratórios de excelência, uma produção científica pujante, será um forte fator de
atratividade para alunos e investigadores, para o desenvolvimento do turismo científico e de toda a economia.
Por fim, a proposta para desenvolver o turismo de saúde vem ao encontro de uma das tendências mais
fortes, identificadas pelos especialistas, que é o envelhecimento da população, que vai fazer crescer a procura
por este segmento de turismo de saúde e bem-estar. Podemos chamar-lhe «turismo grisalho», mas não é uma
pecha, antes pelo contrário.
O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Turismo grisalho!…
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Este turismo terá um peso cada vez maior e este tipo de turista gosta de
experiências e atividades que o façam sentir jovem, que sejam estimulantes a nível físico e psicológico. Mas
uma aposta no turismo de saúde estará condenada se conviver com relatos de experiências traumatizantes
vividas por turistas quando, por contingência, têm de deslocar-se a serviços de urgência dos nossos hospitais.
Portanto, uma aposta no turismo de saúde é incompatível com a degradação do SNS e o primeiro passo
desta estratégia será investir na saúde para que ofereça serviços de excelência, quer aos turistas, quer aos
residentes. A reputação do conjunto do serviço nacional de saúde, isso sim, irá atrair turistas para tratamentos
especializados.
Temos o exemplo de Cuba, para onde muitos portugueses se dirigem à procura de tratamento,…
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, peço-lhe que termine. Tínhamos combinado que não excederia os 4
minutos.
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — … porque tem uma medicina de excelência.
Em suma, a nossa recomendação vai no sentido de mais investimento público na saúde e na educação,
aproveitando a folga orçamental proporcionada pelo bom desempenho da economia para promover o
crescimento, sim, do turismo e da atividade económica em geral. Este é o caminho para alcançar o equilíbrio
das contas públicas.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Pereira.
O Sr. Carlos Pereira (PS): — Sr. Presidente, antes de mais, muito obrigado aos Srs. Deputados António
Costa Silva, Carla Cruz e Paulino Ascenção pelas questões que me colocaram. Procurarei, com a maior
brevidade possível, responder a todas elas.
Começando pelas questões colocadas pelo Sr. Deputado António Costa e Silva, dir-lhe-ei que o povo
costuma dizer «pela boca morre o peixe» e o Sr. Deputado, na sua intervenção, fez isso mesmo, porque
demonstrou concordar com o que foi a principal crítica da minha intervenção relativamente ao vosso Governo,
ou seja, não ter feito absolutamente nada no que diz respeito ao turismo. Abandonou o turismo à sua própria
sorte e os resultados foram piores do que poderiam ter sido.