I SÉRIE — NÚMERO 4
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Esta persistente sub-representação das mulheres nas instâncias do poder político, em todos estes órgãos,
implica um nível de garantia dos direitos políticos das mulheres inferior ao dos homens, constitui um obstáculo
à garantia e à promoção efetiva dos direitos humanos das mulheres e à realização da igualdade efetiva entre
homens e mulheres.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — Vou terminar, Sr. Presidente, com uma última nota, que é em relação à
conciliação entre atividade profissional e vida pessoal. Sabemos, e este relatório também nos dá conta disso,
que as mulheres despendem 1 hora e 40 minutos a mais, por dia, do que os homens nestas atividades, com
crianças e pessoas dependentes, e estas desigualdades também afetam de forma penalizadora as mulheres.
Portanto, temos muito trabalho a fazer, temos de fazer mais e melhor nesta matéria.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado André
Silva.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: A
desigualdade ilude-nos, dá-nos a volta, apresenta-nos indicadores enganosos, tolda-nos o discernimento.
Não se pode olhar para a desigualdade só de frente, e o relatório anual sobre a igualdade de oportunidades
entre homens e mulheres no trabalho, no emprego e na formação profissional vem provar-nos isso mesmo.
O exercício é este: não podemos olhar para o indicador da qualificação sem olhar para as assimetrias de
representação laboral. Não podemos olhar para a ocupação dos cargos de topo sem olharmos para as
diferenças salariais. Não podemos olhar para a população ativa sem olharmos para o desemprego. Não
podemos falar de atividade profissional sem falarmos de vida familiar e trabalho não pago e não podemos sequer
olhar para a realidade do trabalho, do emprego e da formação profissional sem olharmos para as conceções
sociais sobre papéis e representações de género.
Na balança, entre estes indicadores, pesamos homens e mulheres, e são as mulheres a saírem bem mais
prejudicadas.
Por isso, a nossa missão, enquanto cidadãos e representantes democráticos, não pode terminar quando se
melhora uma percentagem ou quando se aprova uma lei. Não podemos sequer pensar em descansar sobre a
igualdade. A nossa missão consiste em afrontar a desigualdade todos os dias, descobrir todos os seus ângulos
e todos os seus truques e apresentar medidas concretas para a sua erradicação. O PAN assume aqui este
compromisso.
Esperamos, Sr.as e Srs. Deputados e Srs. Secretários de Estado, que os dados apresentados pelo Governo
neste relatório também sirvam para incentivar as restantes forças partidárias a trabalhar nesse sentido.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado
do Emprego, Miguel Cabrita.
O Sr. Secretário de Estado do Emprego (Miguel Cabrita): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Apesar
de consagrado na nossa Constituição, o direito à igualdade entre homens e mulheres, depois de tantos
progressos, as desigualdades persistem ainda na sociedade portuguesa, desde logo no mundo do trabalho e
desde logo em matérias tão fundamentais como os salários.
Tendo como referência o setor privado, sabemos que há 10 anos a disparidade salarial de género era de
18,8%. Em 2015, este gap salarial tinha recuado apenas para os 16,7% — uma assimetria ainda vincada e
acima de tudo uma progressão lenta.
Mais, quando olhamos para os dados do Eurostat, onde considerámos apenas as empresas com 10 ou mais
trabalhadores, o gap salarial é ainda de 17,8%, em 2015, e aumentou mesmo na última década. Este exemplo,
e não é um exemplo de somenos, ilustra bem uma realidade.
No plano jurídico, quer internacional quer nacional, temos hoje instrumentos da maior relevância, mas
continuamos, na prática, a ter assimetrias significativas entre mulheres e homens, assimetrias ao nível da gestão