I SÉRIE — NÚMERO 7
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de Esquerda para que os bolseiros de gestão, ciência e tecnologia tivessem um enquadramento numa carreira
específica, de forma a não perder remuneração salarial. O PSD votou contra.
Só por pura hipocrisia política é que podemos agora, aqui, admitir um debate, na verdade, escondido, que
ignora que nas alturas e nos momentos certos o Bloco de Esquerda esteve lá, e também o PSD, mas,
exatamente, contra essas mesmas medidas. Repito, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, só por pura hipocrisia
política e por mero interesse de agenda político-partidária!
Para combater a precariedade, dignificar o ensino superior e quem o constrói todos os dias é urgente romper,
de vez, com um ciclo de desinvestimento crónico. Perdemos um terço do investimento em ensino superior e
ciência desde 2010.
Garantir estabilidade no quotidiano das instituições de ensino superior, dos centros de investigação, dos
laboratórios do Estado deve ser uma prioridade, deve ter uma estratégia a médio e longo prazo, mas deve ser
construída desde agora.
Para as instituições ultrapassarem este problema, não podem continuar a viver mergulhadas no
subfinanciamento em que vivem. Olhemos, por exemplo, para o caso da Universidade da Beira Interior, que vive
hoje sérios problemas de financiamento.
É imperativo reforçar o orçamento do ensino superior e da ciência, seja nas transferências para as instituições
de ensino superior, seja em medidas de ação social, seja descongelando as progressões nas carreiras e
combatendo a precariedade.
No que toca à ação social, relembro que, desde 2013 — e comprovam-no os dados estatísticos —, mais de
metade do investimento em bolsas passou a ser garantido, maioritariamente, ou por fundos comunitários ou
diretamente pelas instituições de ensino superior, com mecanismos próprios. Portanto, admitimos hoje que o
Estado investe apenas menos de metade em ação social direta, nomeadamente nas bolsas de ação social. Este
é um dado estatístico. Poderão dizer que é simbólico, mas é também revelador dos números que têm vindo a
piorar ao longo dos tempos.
Comparativamente a outros sistemas europeus de ensino superior, o dinheiro público investido em ação
social é diminuto. Mesmo nos países onde prevalece a lógica do utilizador-pagador, que contestamos, os
mecanismos de ação social são muito mais eficazes e representativos nos próprios orçamentos desses Estados
e das instituições de ensino superior.
Termino, Sr. Presidente, dizendo que dos sindicatos aos dirigentes das instituições, dos docentes e
investigadores aos estudantes ecoa um grito de indignação, mas, acima de tudo, de esperança nesta solução
governativa.
O ensino superior precisa de um orçamento que o dignifique, a si e quem lá trabalha, estuda e o constrói
todos os dias.
Da parte do Bloco, cá estaremos, como sempre estivemos, em prol de um ensino superior dotado de
instrumentos para chegar a cada vez mais cidadãos; de uma ciência cada vez mais livre — livre de todos os
instrumentos de privados que tentam engoli-la de ano para ano, mas livre também na sua capacidade de
produção científica; de um sistema de ensino superior e ciência liberto de precariedade e com um claro cunho
de liberdade científica e de conhecimento crítico.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Muito obrigado, Sr. Deputado, pela capacidade de ir até ao limite do tempo, sem o
ultrapassar nem um segundo. Fantástico!
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Coimbra.
O Sr. Pedro Coimbra (PS): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Queria começar por saudar
o Grupo Parlamentar do PSD por este agendamento sobre conhecimento e criação de valor.
Estaremos, certamente, todos de acordo que uma sociedade é tanto mais desenvolvida social e
economicamente quanto mais souber valorizar a ciência, o conhecimento, a educação e, por conseguinte, a
criação de valor acrescentado.
Queria focar-me nos três projetos de resolução apresentados que, diga-se, têm tanto de importantes como
de extemporâneos. É que o PSD — suponho que por má vontade política e deliberadamente, porque não