17 DE MARÇO DE 2018
37
Mais uma vez, vimos manifestar ao Governo espanhol o respeito pela nossa soberania nacional e pedir que
sejam cumpridos os acordos internacionais, com a realização de estudos de impacte ambientais transfronteiriços
e que o Governo português seja atempadamente consultado nestes projetos.
Mas da parte de Espanha foi, mais uma vez, desconsiderado o parecer do Estado português e a necessidade
de avaliarmos as consequências ambientais, nos dois países, da abertura de uma mina de urânio. Mais gravoso,
a agenda da Comissão Europeia vai no sentido de validar na Europa, a qualquer custo, a dita independência
mineral e energética com recurso à energia nuclear.
Porém, há que tomar uma posição firme, bem mais firme do que a que estamos a tomar perante a central
nuclear de Almaraz.
Neste quadro, propomos que o Governo português use todos os expedientes diplomáticos e jurídicos para
garantir o cumprimento dos acordos internacionais, nomeadamente da Convenção de Espoo.
Por fim, e por sabermos do enorme risco do nuclear na Europa, e mais concretamente na Península Ibérica,
propomos que, em reuniões bilaterais com Espanha, seja sempre discutido o tema do nuclear. Cabe ao Governo
português impor a agenda do fim do uso da energia nuclear e não esperar que o Reino de Espanha nos imponha
uma calamidade ambiental.
Aplausos do Deputado do BE Pedro Soares.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado
Santinho Pacheco, do Partido Socialista.
O Sr. Santinho Pacheco (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Começo por saudar calorosamente
os nossos amigos que vieram de Espanha e agradecer sentidamente a sua presença solidária.
A extração de urânio é uma atividade de elevado risco, com forte impacte ambiental e na saúde pública.
A recente visita parlamentar portuguesa à província de Salamanca, aos territórios de Boada, Retortilho e
Villavieja de Yeltes, muito perto da fronteira de Almeida e de Figueira de Castelo Rodrigo, veio evidenciar o risco
latente para as populações raianas, para a economia e para o ambiente.
Nessa zona remota e despovoada do território espanhol, decorrem, discretamente, desde 2013, estudos e
trabalhos preparatórios para a extração de urânio a céu aberto, com lavagem de milhões de toneladas de terras
e a eventual condução das águas utilizadas para a bacia hidrográfica do Douro, através do rio Yeltes.
O Douro é um ativo português de que depende o abastecimento público de centenas de milhares de pessoas
e com dois patrimónios mundiais da UNESCO: o Douro Vinhateiro e as Gravuras do Côa.
Os Deputados do Partido Socialista não aceitam que este processo ocorra sem o envolvimento de Portugal.
Acreditamos que o Governo espanhol não irá fugir às suas responsabilidades e negar-se à avaliação conjunta
que um investimento desta natureza obriga.
Face ao exposto, o Grupo Parlamentar do PS solicita ao Governo que proceda às seguintes diligências:
assegure efetivamente o cumprimento do Protocolo de atuação entre Portugal e Espanha, exigindo o respeito
pelas normas internacionais; tome todas as medidas adequadas para proteger, no território nacional, os valores
naturais e ambientais; instale, com a maior brevidade possível, uma estação de controlo radiológico no Douro.
A raia não é a porta dos fundos do País e muito menos uma terra de ninguém para o contrabando ambiental.
A raia é uma região mítica, é um território limpo e lindo, planalto do carvalho negral, de uma monumentalidade
grandiosa, com fortalezas e castelos e as suas aldeias históricas.
A raia do Côa, das gravuras rupestres, do Vinho do Porto e do Vinho do Douro, do turismo internacional que
se consolida.
A raia do despovoamento e do espírito aventureiro, a salto, foi Europa antes do resto do País, porque Portugal
amordaçado teimava ficar orgulhosamente só.
Aplausos do PS.
A raia, fronteira de Vilar Formoso, viu o crescimento travado e a sua economia arruinada, qual dano colateral
da nossa adesão comunitária.