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I SÉRIE — NÚMERO 62

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sobre a regularização do regime hídrico, sobre a absorção de carbono e a purificação do ar, sobre a salvaguarda

da biodiversidade, sobre a valorização da paisagem, entre tantas outras questões. É por isso determinante

preservar este ecossistema.

O problema é que o abandono progressivo do mundo rural resultou, ao longo dos anos, no consequente

abandono dos espaços florestais. O mundo rural deixou de ser atrativo em termos de subsistência das famílias,

a política agrícola comum (PAC) cortou-nos a capacidade de produzir, os agricultores portugueses

empobreceram e despovoou-se o mundo rural. Enquanto isso, os sucessivos governos, e o último Governo,

PSD/CDS, muito em particular, foram cavando cada vez mais este problema e foram encerrando escolas,

centros de saúde, postos da GNR (Guarda Nacional Republicana), tribunais, repartições de finanças, entre

tantos outros serviços públicos, retirando potencialidade a um espaço rural cada vez mais esvaziado e menos

atrativo para a fixação de pessoas e empresas.

Simultaneamente, as celuloses tomaram conta da floresta e tornaram os pequenos proprietários florestais

dependentes do serviço às celuloses para conseguirem alguma rentabilidade, e foi nestas circunstâncias que a

diversidade florestal deu lugar às extensas monoculturas de eucalipto, retirando espaço às nossas espécies

autóctones. O Inventário Florestal Nacional (IFN) dá bem conta da presença maciça do eucalipto e do pinheiro-

bravo na nossa floresta, mas é inequívoca a diferenciação entre os dois no que respeita à sua tendência

evolutiva: enquanto o pinheiro-bravo assistiu a uma diminuição acentuada desde 1995, o eucalipto assistiu, pelo

contrário, a um aumento substancial, sendo a espécie que mais se expandiu pela nossa floresta.

Este esvaziamento do mundo rural e esta expansão desmesurada das monoculturas de eucalipto,

conjugados com outros fatores como a extinção de corpos de vigilância importantes, como os guardas florestais,

ou, também, com uma política absolutamente insuficiente de investimento na prevenção do risco, têm gerado

situações muito graves no que respeita à área ardida, à propagação dos fogos florestais, à vitimização de vidas

humanas, aspeto que atingiu uma dimensão mais do que trágica com os incêndios de julho e de outubro do ano

passado.

Os Verdes insistem em sublinhar que os povoamentos florestais não são inócuos no que respeita à dimensão

que os fogos florestais atingem. O Relatório da Comissão Técnica Independente relativo aos incêndios de

Pedrógão Grande e outros concelhos, bem como tantos outros relatórios já previamente elaborados a propósito

de outras ocorrências, assim como o Relatório da Comissão Técnica Independente relativo aos incêndios de 14,

15 e 16 de outubro, deixam claro que as extensas monoculturas de eucalipto constituem um rastilho inegável.

Neste último Relatório verifica-se que a velocidade de propagação do fogo é facilitada pelas abundantes

projeções resultantes da predominância de eucalipto no trajeto do fogo e que o material combustível desta

espécie, entre as folhas e os ramos finos, se distribui verticalmente por diversos estratos, formando uma escada

que conduz às copas inflamáveis, potenciando a propagação do fogo, permitindo incêndios de elevada

intensidade e de fácil propagação. É por isso que, neste quadro, nas áreas onde não há mistura de espécies o

fogo se propaga com mais facilidade e é visível que nas áreas com predominância de sobreiro, azinheira,

carvalhos, castanheiros e outras folhosas a área ardida é incomparavelmente — mas incomparavelmente —

menor, se comparada com a área ardida de eucalipto e de pinheiro-bravo.

Isto não é nenhuma novidade, e justamente por não ser nenhuma novidade é que se torna dramático que na

Legislatura anterior o PSD e o CDS, tendo como Ministra responsável a atual líder do CDS, Assunção Cristas,

tenham aprovado um regime de arborização e rearborização desenhado para o interesse das celuloses e que

promovia a liberalização do eucalipto. Esse regime, face ao quadro de sucessivos fogos florestais a que o País

assistia ano após ano, foi de uma autêntica e profunda irresponsabilidade.

Estas políticas de abandono do interior e do mundo rural, de opções erráticas em termos de valorização da

floresta, designadamente na sua componente de resiliência, priorizaram interesses económicos em vez do bem-

estar das populações e da sua segurança e do território e, como refere a Relatório da Comissão Técnica

Independente, cuja leitura teremos oportunidade de detalhar até à próxima quarta-feira, altura em que será aqui

debatido o documento, os apoios às medidas florestais priorizaram os investimentos dirigidos ao valor

económico da floresta em detrimento da prevenção e recuperação de superfícies afetadas por incêndios e outros

riscos.

As funções de segurança para as sociedades humanas que as florestas desempenham foram, ao longo dos

anos, desprezadas em benefício da função económica imediata da floresta. O Partido Ecologista «Os Verdes»

espera que se perceba que este rumo já foi sobremaneira desastroso e que importa invertê-lo para criar