I SÉRIE — NÚMERO 86
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Abriu fogo ao banco público e ainda quis convencer o País de que o seu propósito era a transparência.
Protestos do PSD.
Mas não era! Não era a transparência, Srs. Deputados!
Protestos do PSD.
Não era, porque os ímpetos que levaram o PSD a, excecionalmente, colocar o sigilo bancário na gaveta só
se aplicaram à Caixa e a mais nenhum banco português.
Ao fim de vários meses de inflamados e insistentes discursos só tinham para apresentar ao Parlamento um
mísero requerimento, sem qualquer consequência legal,…
Protestos do PSD.
… até porque esse requerimento esbarrava — imagine-se! — na lei do sigilo bancário.
Aplausos do BE.
Foi preciso o Bloco de Esquerda agendar potestativamente um projeto de lei que reforça o acesso dos
inquéritos parlamentares à informação bancária e que obriga à divulgação dos grandes credores em
incumprimento em todos os bancos, para, só então, o PSD, em cima da hora, decidir vir a jogo com uma iniciativa
legislativa que, ainda assim, exclui o BPI (Banco Português de Investimento), o BPP (Banco Privado Português)
e o Millenium BCP.
Sr.as e Srs. Deputados: Na última década o Estado português comprometeu 30 000 milhões de euros em
ajudas à banca. Sabemos que a crise bancária em Portugal teve causas macroeconómicas. Sabemos que o
colapso internacional de 2008 secou o financiamento dos bancos e que a austeridade, causada pela troica,
causou milhares de falências. Mas também sabemos, e a crise revelou-o, que nos balanços dos bancos, e não
apenas na Caixa, pesavam créditos ruinosos, empréstimos de muitos milhões de euros para financiar negócios
obscuros, desde projetos imobiliários fraudulentos a guerras de controlo acionista de grandes empresas. A
irresponsabilidade do sistema bancário, enquanto pivô destas práticas, foi proporcional ao sentimento de
impunidade de todos os envolvidos. A cultura de secretismo serviu para proteger quem não hesitou em colocar
os seus interesses particulares acima de qualquer critério prudencial, ético e até legal.
É, por isso, justo que o País possa conhecer os negócios ruinosos que tanto prejudicaram a economia. Para
isso, o Bloco de Esquerda propõe que esta Assembleia atribua ao Banco de Portugal a obrigação legal de
publicar informação sobre os grandes créditos incumpridos na última década, de todos os bancos que tenham
sido alvo de intervenção, direta ou indireta, do Estado, do BPN à Caixa Geral de Depósitos.
Mas, porque queremos ser consequentes com esta análise dos erros passados, introduzimos novas regras
de transparência: propomos que os bancos passem a divulgar a lista dos seus grandes riscos em incumprimento.
Esta informação reporta apenas às dívidas que representem 10% dos fundos próprios e é essencial para quebrar
a cultura de secretismo e incentivar práticas criteriosas na concessão de créditos milionários.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE) — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.as e Srs. Deputados: Não há uma única medida que, por si só, garanta
a transparência e o combate à fraude fiscal, mas há propostas novas, que acompanham as conclusões que
fomos tirando das más experiências recentes, e há propostas antigas, como as alterações ao sigilo bancário
para a troca automática de informações, pelas quais esperamos há, pelo menos, duas décadas.
Se, hoje, ambas forem aprovadas, o Parlamento terá dado um passo importante no combate ao crime
económico.
Aplausos do BE.