I SÉRIE — NÚMERO 99
12
Há um risco acrescido de revisitar o tema da natalidade sem que nada aconteça, sem que nenhumas
propostas nos comprometam.
É que de cada vez que se fala sobre o assunto pode criar-se a ilusão de que, como já está a ser falado, já
está na agenda do dia, já está encaminhado.
Sr.as e Srs. Deputados, não nos enganemos nem permitamos falsas ilusões. A natalidade até pode estar —
e tem estado frequentemente, muitas vezes até por responsabilidade do CDS — na agenda parlamentar, mas
não está suficientemente nas prioridades políticas e orçamentais. Não basta o que temos feito, pois cada vez
mais os dados se agravam. É preciso mais, é preciso melhor.
O Sr. João Oliveira (PCP): — E o visto familiar?
O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — Sim, certamente é preciso um envelope financeiro maior,
dando mais um salto equivalente àquele que foi dado no Governo anterior, em que se aumentou em 600 milhões
de euros o apoio orçamental às famílias. Mas é preciso também melhor, porque nenhum problema se resolve,
e muito menos aqueles que são estruturais, apenas com mais dinheiro.
Certamente que é preciso responder aos problemas da precariedade, das políticas de habitação e da
conciliação da vida pessoal com a vida laboral, mas temos de ter a capacidade de estar focados nos objetivos
e não na retórica partidária.
Tantas vezes, e infelizmente já hoje aqui se verifica isso, fazemos da agenda da natalidade um trampolim
para outras agendas que já tínhamos e que queríamos impor, independentemente da questão da natalidade e
da sua evolução. Contudo, desta forma, apenas continuamos a adiar o que não pode, não deve mesmo continuar
a ser adiado.
Sr.as e Srs. Deputados, foquemo-nos, pois, na questão central: nenhuma política de natalidade pode
contornar o desafio de ser família nos dias de hoje, porque é das famílias que nasce a decisão de ter mais filhos.
Dêmos, pois, a palavra às famílias e façamos de um exemplo a ilustração de uma visão mais ampla: o quociente
familiar. Não se trata apenas de dar mais dinheiro à família, mas de ir repondo uma injustiça, uma injustiça que
ocorre sempre que não se consideram — nas tarifas da água, nas taxas moderadoras, no pagamento dos
impostos, etc. — os elementos que compõem uma família.
É por isso, que, da nossa parte, contribuiremos para este debate, exigindo que ao quociente conjugal se
some o número de dependentes e que, na determinação de todas as taxas, encargos e impostos, sobretudo os
progressivos, se estabeleça que os filhos têm de contar. Os filhos não podem ser clandestinos nem invisíveis.
O quociente familiar é, pois, em nosso entender, a expressão de um direito que não representa apenas a
concessão de um apoio financeiro. Não, é o direito a que cada filho seja considerado, tenha existência e seja
respeitado.
As famílias e os portugueses poderão contar com o CDS para continuar a pugnar pelo quociente familiar.
Não porque seja uma agenda partidária, mas porque exprime e traduz, na prática, aquilo que é uma visão
integrada da natalidade e das famílias portuguesas, onde nenhum filho é irrelevante nem é considerado fora do
seu contexto e da sua economia familiar.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr. Deputado, a Mesa regista apenas um pedido de
esclarecimento, da Sr.ª Deputada Elza Pais, do Partido Socialista.
Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Elza Pais (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Filipe Anacoreta Correia, perante os dados conhecidos
esta semana sobre o reembolso às famílias com filhos, que disparou, quando é que vai mudar o seu discurso
sobre esta matéria?
Aplausos do PS.