I SÉRIE — NÚMERO 101
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Dar resposta aos problemas de quem mais sofre com as políticas neoliberais que atingiram a Academia não
passa, na verdade, por manobras de marketing, como o Sr. Ministro nos tem vindo a habituar.
Numa altura em que o Partido Socialista assumiu, no seu Congresso, que tem como prioridade criar
condições para que os portugueses que emigraram nos últimos anos voltem a Portugal, tem aqui uma
oportunidade grande: em primeiro lugar, garantindo que o sistema científico e o ensino superior têm
financiamento para receber os quadros qualificados que saíram do País; e, em segundo lugar, mas, na verdade,
antes de tudo, garantir que os que cá estão não vão para a rua.
O Bloco sabe onde se posiciona: do lado das vítimas da precariedade,…
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Luís Monteiro (BE): — Terminarei, Sr. Presidente.
O Bloco posiciona-se do lado das vítimas da precariedade, dos estudantes sem bolsa, dos excluídos das
decisões sobre a vida da sua instituição de ensino superior.
Mas, na verdade, onde é que se tem posicionado o Governo? Mantém a sua obstinação por um modelo
fundacional, derrotado esta semana na Universidade de Coimbra! Fecha as portas a uma revisão do
regulamento de bolsas!
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, tem mesmo de concluir, porque já ultrapassou largamente o seu tempo.
O Sr. Luís Monteiro (BE): — Prefere alimentar empréstimos bancários ao invés de cortar nas propinas!
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, terminando, e como se escrevia nas paredes, em Maio de 68, em
Paris, «nada será como antes». A consciência de uma classe subalternizada ganha hoje voz nas instituições.
Os precários, os estudantes voltaram a sair à rua e a discussão, hoje, sobre o ensino superior é a de que o
poder dentro da Academia está de novo em discussão.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado Luís Monteiro, inscreveu-se, para lhe pedir esclarecimentos, o Sr.
Deputado Pedro Pimpão, a quem dou de seguida a palavra.
O Sr. Pedro Pimpão (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, começo por saudar o Bloco de
Esquerda por proporcionar esta discussão muito importante em Plenário. Mas, Sr.as e Srs. Deputados, não deixa
de ser caricato termos o Bloco de Esquerda a agendar um debate para denunciar a falta de financiamento do
ensino superior quando este orçamento está em vigor, precisamente, pela mão do Bloco de Esquerda.
Isto até teria a sua graça e a sua originalidade não fora o facto de estarmos num País em que o próprio
Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior subscreve um Manifesto onde se criticam as políticas do
Governo na área do ensino superior e da ciência.
Aplausos do PSD.
Por isso, Sr.as e Srs. Deputados, era importante que o Bloco de Esquerda, em vez de procurar fingir que não
tem nada a ver com a situação, fizesse um ato de contrição relativamente à situação de subfinanciamento que
esta tutela tem provocado nas instituições de ensino superior.
Ainda nesta semana ficou claro, com a questão das progressões salariais, que o Governo está a empurrar
responsabilidades para as universidades, para os politécnicos, pagando apenas parte das suas
responsabilidades.
A situação é muito clara no nosso País: por um lado, temos o Governo que anuncia aos portugueses que
chegou o fim da austeridade; depois, quando faz as contas, percebe que não tem dinheiro para dar cumprimento
às suas próprias promessas — veja-se o caso da avaliação dos professores. No caso concreto, põe as
universidades e os politécnicos em situação de desequilíbrio financeiro, obrigando-os a pagar as promessas do
Governo sem lhes transferir o respetivo dinheiro.