I SÉRIE — NÚMERO 108
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E dou um exemplo concreto: o primeiro projeto de resolução que o Bloco de Esquerda apresentou para
discussão nesta Legislatura, em 2015, dizia que era necessário investimento na ferrovia, nomeadamente no
material circulante. E o que é que o CDS fez? Votou contra! Por isso, sobre a coerência do CDS, já estamos
conversados. São incoerentes, nunca pensaram na ferrovia, caíram lá por engano, caíram lá, apenas e só, pela
demagogia de quem quer estar a fazer campanha eleitoral com as desgraças do País, quando foram o CDS e
o PSD que montaram esta desgraça na ferrovia.
Mas, Sr. Ministro, queria fazer-lhe algumas perguntas muito diretas e muito concretas. Já sabemos, porque
ouvimos o Presidente da CP dizê-lo nos últimos dias, que estes problemas pontuais terão resolução de curto
prazo. Mas o que falta é solução para os problemas estruturais da ferrovia, e era sobre isso que queria questioná-
lo.
Olhamos para vários países europeus, começando aqui ao lado, por Espanha, e vemos que todos eles já se
prepararam para a liberalização do setor ferroviário e, particularmente, para proteger as empresas nacionais e
o serviço que atualmente prestam.
No entanto, olhamos para o Governo português e vemos que vai no pelotão de trás na negociação do seu
contrato de concessão com as empresas nacionais. Assim sendo, pergunto-lhe o que é que está a acontecer, o
porquê deste atraso. Pergunto-lhe, muito diretamente, se o Governo quer a privatização da CP. É que nós
sabemos que, se quisesse, deixaria de lado, por exemplo, nesse contrato de concessão as carreiras de longo
curso da CP, porque o transporte de longo curso é aquele que é mais rentável e, por isso, mais apetecível
também para os privados.
Não me passa pela cabeça que o Sr. Ministro possa querer a privatização da CP — não estamos a falar com
o CDS, nem com o PSD. Por isso, pergunto-lhe: está a pensar colocar no contrato de concessão de serviço
público da CP também os comboios de longo curso da CP?
Uma segunda pergunta, para percebermos se o Governo acredita mesmo que a ferrovia tem futuro, tem a
ver com o seguinte: sabemos que o contrato de concessão que agora vai ser negociado — e tem de o ser até
ao final do ano — pode englobar, por exemplo, já uma perspetiva sobre a Fertagus. Por isso, acredita o Governo
que o setor público da ferrovia tem futuro e vai apostar que a CP pode operar na Fertagus, ou vai continuar a
ver os comboios da CP a passar na Fertagus com o lucro a ir parar às mãos do Grupo Barraqueiro?
São estas perguntas muito diretas que lhe deixo, Sr. Ministro.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — O metro do Porto é da Barraqueiro e foram vocês que o entregaram. Não
sei se deu conta disso…
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em primeiro lugar, não podemos deixar de
assinalar como verdadeiramente extraordinária esta temporada de espetáculos com que somos brindados por
aqueles que, hoje, rasgam as vestes de indignação na Assembleia da República e se desdobraram em visitas
de estudo para conhecer comboios e estações à frente das câmaras e microfones, depois das notícias saírem,
precisamente aqueles que há pouco tempo estavam no Governo a mandar encerrar a Linha do Oeste e a Linha
do Leste, a acabar com as indemnizações compensatórias à CP — foi em 2014, Sr. Deputado Emídio Guerreiro,
foi o Governo PSD/CDS que o fez! —, a vender a CP Carga por muito menos dinheiro do que valiam só as suas
locomotivas, a cortar 10% no pessoal da CP e 20% no pessoal da EMEF. É caso para dizer que, se a incoerência
e a hipocrisia política pagassem imposto, já havia dinheiro para uma frota de comboios toda nova para a ferrovia
nacional.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Os problemas
reais e concretos que afetam todos os dias os utentes, as populações e os trabalhadores do setor ferroviário
são o resultado de políticas e opções concretas de sucessivos governos.
Durante anos — e reconheçam isto, Srs. Deputados e Srs. Membros do Governo —, o PCP alertou para as
consequências desastrosas dessas políticas. Chamámos a atenção para as medidas urgentes, que são urgentes