I SÉRIE — NÚMERO 3
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O Sr. Presidente: — Tem a palavra, em nome do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, a Sr.ª Deputada
Joana Mortágua.
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro da Educação, Srs. Secretários de Estado, Sr.as
e Srs. Deputados, em 2014, o ex-Ministro Nuno Crato apresentou ao ex-Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho,
o seu pedido de demissão pelo caos que provocou no início do ano letivo mais caótico de que há memória.
Em 2018, estamos muito longe dessa realidade. Houve problemas — é certo! —, houve escolas que não
abriram por falta de funcionários, houve debilidades no modelo de atribuição dos manuais escolares gratuitos,
mas, no geral, e até o PSD o reconheceu aqui ontem, estamos nos antípodas de 2014. Julgo até que as palavras
utilizadas pelo PSD foram «relativa tranquilidade».
Este ano, as escolas abriram as portas com os professores colocados a tempo, e era bom que o Governo
reconhecesse, com humildade, que para isso contribuiu o concurso de mobilidade interna extraordinário que
aqui foi aprovado à revelia do Governo e que, com essa humildade, tirasse também uma lição para aquilo que
deve ser feito em relação à injustiça quanto aos descontos para a segurança social dos docentes contratados
com horários incompletos.
Isto significa que está tudo bem com as escolas? Não! Significa que os problemas que existiram no início
deste ano letivo não são problemas pontuais, são problemas de fundo.
Esses problemas de fundo prendem-se, por um lado, com a falta de funcionários, com a insuficiência de
assistentes operacionais e de assistentes técnicos. E gostaria que o Sr. Ministro aqui explicasse o número que
apresentou naquela tribuna, de mais 2700 funcionários, pois nós conhecemos outro número, nós sabemos de
mais 2500 funcionários. A não ser que, entretanto, tenha decidido contratar mais 200, não conseguimos explicar
o número de 2700. Mas também gostaríamos de saber se está disposto a rever a portaria, que é insuficiente
para a afetação de todos os funcionários que são necessários à escola.
Em segundo lugar, o problema de fundo, o fantasma que ensombra as escolas no início do ano letivo é a
arrogância com que o Governo recusa negociar o prazo e o modo da recuperação integral do tempo de serviço
— 9 anos, 4 meses e 2 dias — dos professores.
A proposta pré-anunciada pelo Governo, de avançar unilateralmente apenas com uma pequena parte deste
tempo — 2 anos, 9 meses e 18 dias —, não respeita o compromisso do Governo com os professores e não
respeita os partidos que aqui, no Parlamento, aprovaram também uma resolução e assumiram esse
compromisso com os professores.
Portanto, o Governo tem a obrigação de negociar e de fazer desta recuperação de 2 anos, 9 meses e 18 dias
apenas a primeira fase de uma recuperação integral do tempo de serviço dos professores.
Em suma, Sr. Ministro, grande parte dos problemas de fundo da escola pública tem a ver com escolhas
orçamentais. E aquilo que queríamos saber era se a suborçamentação crónica na educação é a escolha ou vai
continuar a ser a escolha do Ministro da Educação. Sabemos que a suborçamentação na educação é a escolha
de Bruxelas — isso, já sabemos —, o que queremos saber é se vai continuar a ser a escolha do Ministro da
Educação.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, pelo Grupo Parlamentar do CDS-PP, a Sr.ª Deputada Ana Rita Bessa.
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as Deputadas e Srs.
Deputados, o Sr. Ministro disse, recentemente, em entrevista, que este era um tempo de consolidação e de
visibilidade das políticas educativas deste Governo e, realmente, temos mesmo visto o Sr. Ministro várias vezes.
Primeiro, vimo-lo a inaugurar a abertura do ano letivo na Escola Básica e Secundária de Celorico de Basto —
com direito a selfie com o Sr. Presidente, e tudo, como faz parte do ar dos tempos — e vimo-lo, também, numa
escola em Paredes de Coura, a sua terra, mas aí já não estava a tirar selfies, estava a esconder-se atrás do Sr.
Primeiro-Ministro, quando confrontado com os sindicatos. Mas, de facto, lá estava.
O Sr. Ministro da Educação: — Tenha vergonha, Sr.ª Deputada!