4 DE OUTUBRO DE 2018
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A Sr.ª Ângela Moreira (PCP): — A realidade do nosso País é feita também de gente que mora em aldeias,
montes e campos, um mundo rural que preserva mais do que qualquer outro uma relação com a natureza e os
animais;…
O Sr. António Filipe (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Ângela Moreira (PCP): — … gente que trata dos seus animais, porque ninguém tem mais interesse
que sejam bem cuidados do que os próprios utilizadores; gente abandonada, com baixas reformas, desprovidos
de serviços públicos e sem transportes; famílias desfavorecidas que veem no seu animal o seu único aliado, o
seu companheiro de trabalho.
A utilização dos animais para o trabalho é uma prática milenar e é a razão fundamental para muitas espécies
terem subsistido.
O PCP foi o primeiro partido a apresentar na Assembleia da República uma iniciativa legislativa com o objetivo
de promover o bem-estar animal e vai continuar a intervir pela dignidade dos animais. Esta discussão é
importante mas não pode ser feita de forma a ficarmos indiferentes às condições de vida das pessoas, à sua
pobreza, às suas necessidades e aos seus recursos.
Esta discussão deveria ser uma forma de iniciarmos mais debates sobre as condições de vida das
populações e encontramos soluções para garantir, entre outras, condições de mobilidade e de vida que ainda
hoje lhes continuam a ser negadas.
As iniciativas do PAN procuram retomar posições que desconsideram em absoluto as condições de vida
dessas populações, agora de uma forma dissimulada mas igualmente sem sustentação.
O parecer da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) é bem claro, rigoroso e esclarece
quaisquer dúvidas quanto às matérias de segurança rodoviária causadas pelas carroças de tração animal.
Também o Instituto da Mobilidade e dos Transportes é perentório quando diz que a utilização e circulação de
veículos de tração animal na via pública continua a ser permitida.
Intervimos em prol da dignidade dos animais, do seu bem-estar na sociedade atual. Por isso mesmo
reafirmamos que não é pela penalização, pela proibição, pela violência sobre as pessoas que se consegue que
os animais sejam mais protegidos.
O Sr. António Filipe (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Ângela Moreira (PCP): — A posição do PCP é marcada pela reflexão e pela coerência. Já o afirmámos
e reafirmamos hoje, novamente: somos pelo correto tratamento dos animais, somos pelo bem-estar animal,
somos contra a pobreza e a exclusão social, somos contra o racismo e a xenofobia, somos pela melhoria das
condições de vida e, por isso, continuamos a não estar de acordo com as iniciativas apresentadas.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para terminar este ponto, tem a palavra a Sr.ª Deputada Maria
Manuel Rola, do Bloco de Esquerda.
Faça favor.
A Sr.ª Maria Manuel Rola (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, a petição que aqui discutimos hoje
traz novamente, e bem, a este Plenário as questões relativas ao bem-estar animal e ao alargamento da vigência
da lei de maus tratos a animais, a outros animais que não apenas os de companhia. E é esta a questão estrutural
por trás do que nos levantam aqui hoje, quanto aos maus tratos de equídeos, que se estende também a outros
animais de pecuária ou de desporto ou, ainda, de tração. No entanto, esta petição foca-se numa espécie apenas
e levanta principalmente questões em que a legislação não está a ser corretamente aplicada e fiscalizada.
Identificámos que muitas das questões levantadas já se encontram enquadradas, nomeadamente a emissão
do livro verde nas dependências regionais da DGAV (Direção-Geral de Alimentação e Veterinária), a existência
de leitores de microchip nos serviços de proteção animal da PSP ou da GNR, ou a fiscalização, como
competência de outras entidades que não apenas da DGAV. A PSP e a GNR têm já, na sua orgânica, núcleos