4 DE OUTUBRO DE 2018
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conjunto de argumentos e de justificações que revelam um profundo desconhecimento da realidade, melhor
dizendo, da realidade do nosso mundo rural.
Desde logo, o Projeto de Lei n.º 982/XIII/3.ª, do PAN, recorre à utilização abusiva e incorreta de termos. O
que vigora neste momento, e que o Sr. Deputado apresentou, e bem, é a permissão da caça à raposa com pau
e com matilhas — nunca se fala em paulada! Parece o mesmo, Srs. Deputados, mas não é! Por um homem
usar chapéu, não dá uma chapelada!
Risos e aplausos do PS e de Deputados do PSD e do CDS-PP.
É verdade, Srs. Deputados!
O que defendemos é o equilíbrio do ecossistema, do qual, caso o Sr. Deputado não saiba, o Homem é parte
integrante e no qual é necessária a existência de caçadas à raposa e ao saca-rabos para corrigir densidades
populacionais elevadas destas espécies.
E porquê, Sr. Deputado? Estas duas espécies já não têm predadores, estas espécies estão sujeitas a grande
escassez de alimentos — devido à doença dos coelhos, como sabe —, estes animais, sem predador e sem
seleção natural, são portadores de doenças graves, o que é uma questão de saúde pública; logo, enquanto
tivermos caçadas organizadas, temos o controlo e a verificação das normas, sem desvios, sendo, pois, uma
garantia do mundo rural, dos animais e da natureza.
Quero dar-vos alguns exemplos das contradições e aparentes boas intenções que estas iniciativas
transportam.
Por um lado, estamos a investir em projetos e campanhas para a recuperação da população de coelhos-
bravos, mas, depois, querem aprovar legislação que protege os seus predadores, sem restrições.
Em segundo lugar, defendemos todas as vantagens da promoção do bem-estar animal na produção de gado
em extensivo,…
O Sr. André Silva (PAN): — «Defendemos»? Quem?!
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — … mas, depois, querem permitir que este seja dizimado por estes
predadores.
Dou mais dois exemplos.
Um produtor na serra de Serpa, com um efetivo de 350 ovelhas a parir, apurou apenas 6 borregos, ou seja,
mais de 300 animais foram devorados por estes predadores.
Castro Verde, um outro concelho do Baixo Alentejo, tem a reserva mundial da bioesfera, em parte devido à
sua grande colónia de abetardas, espécie que está em vias de extinção e que é protegida, e bem. A sua
população está a decrescer significativamente, devido a quê? Ao aumento destes predadores que as
consomem.
Mais: estima-se que, no último ano, na região do Alentejo, terão sido devorados por estes predadores cerca
de 150 000 animais, pecuários e de capoeira.
Em suma, a aprovação destes projetos de lei significaria um forte ataque ao mundo rural, aos homens e às
mulheres que vivem no campo, estes, sim, em harmonia com a natureza. Se aprovadas estas iniciativas, seriam
um contributo para o abandono da pecuária extensiva e da agricultura ecológica que protege o meio ambiente.
Os homens e as mulheres do campo, com as suas atividades agrícolas, com as suas caçadas organizadas
com o apoio das matilhas são um contributo essencial para a conservação dos recursos naturais e para a
biodiversidade.
Do que o mundo rural precisa é de quem o apoie, somando iniciativas e recursos aos que já tem. Precisamos
de apoios concretos para valorizar o mundo rural e o interior, dispensamos propostas sem nexo com a realidade,
sem bom senso e com intenções que só teriam impactos negativos. Como diz o povo, «de boas intenções está
o inferno cheio».
O mundo rural precisa de senso e de futuro e não que lhe imponham conceitos urbanos que não se adequam
à realidade.