4 DE JANEIRO DE 2019
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A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Obrigada, Sr. Presidente.
O direito à habitação implica o direito ao habitat e ao lugar, o que exige a articulação com políticas de
emprego, saúde, educação, transportes, acessibilidades, intervenção social, cultura e ambiente. Tal exige
também o adequado ordenamento do território e o desenvolvimento urbano, bem como o acesso a serviços
públicos, equipamentos e infraestruturas básicas.
A participação dos moradores e das suas estruturas representativas na definição das políticas e programas
de habitação, a criação de cooperativas e a promoção de processos de autoconstrução e autoacabamento são
valorizados na nossa proposta.
Quanto às demais iniciativas, queríamos dizer o seguinte: sobre a proposta do Bloco de Esquerda,
acompanhamos aquilo que vai ao encontro das nossas propostas; sobre a proposta do Partido Socialista,
verificamos que há um conjunto de aspetos positivos, mas não podemos deixar de salientar que o Estado
continua a manter um papel subsidiário. Nesta proposta não só não há identificação das causas, dos interesses
e dos responsáveis pelas dificuldades no acesso à habitação, como ela assenta também na transferência de
encargos para as autarquias e subsequente desresponsabilização do Estado, e insiste em opções que
beneficiam os grupos económicos e financeiros que especulam com a habitação, através de isenções e
benefícios fiscais, quando se sabe que não é desviando recursos públicos para programas privados de habitação
que se resolvem os problemas habitacionais das famílias.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A questão que hoje se coloca neste debate é a de saber se se mantém
o atual estado de coisas ou se se aproveita esta oportunidade para romper com a atual situação e assegurar
uma política de habitação em que o Estado assume a sua responsabilidade constitucional.
Da parte do PCP há toda a disponibilidade para aprofundarmos e prosseguirmos este debate em sede de
especialidade, mas tendo presente, e como elemento central, o seguinte: garantir o direito à habitação,
concretizar o artigo 65.º da nossa Constituição e dar prioridade ao papel determinante do Estado nesta matéria.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Maria Manuel Rola.
A Sr.ª Maria Manuel Rola (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Bloco de Esquerda traz a debate
um projeto de lei de bases para a habitação abrangente e estrutural, que define o papel central do Estado como
provedor do direito à habitação, através da criação de um serviço nacional de habitação que aumente
corajosamente a habitação de propriedade pública e que garanta que temos cidades vividas, edificado mantido
e pessoas com casa assegurada.
Esta responsabilidade tem de ficar clara nesta lei de bases: é o Estado que protege as pessoas dos «ventos
e tempestades» dos mercados imobiliários. É com base nessa proteção que ninguém aceita um modelo
totalmente privado de acesso à saúde ou apenas as escolas privadas para os seus filhos; é também por isso
que devemos garantir resposta semelhante na habitação, onde atualmente é o «salve-se quem puder».
Transformar isto é aumentar decididamente a quase inexistente resposta pública.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Maria Manuel Rola (BE): — Inscrevemos também que o modelo de ação de qualquer Governo tem
de ser preventivo: antecipar e penalizar o abandono do edificado, corrigir as situações e condições que
conduzem à precariedade habitacional e erradicar e precaver as situações que levam à condição de despejo ou
de sem-abrigo. Propomos também a prevenção e acompanhamento no despejo pela implementação da atuação
atempada, garantindo que o Estado acompanha os cidadãos na procura da concretização do direito à habitação.
Ninguém deve ter de assistir à demolição da sua casa ou a uma entrada forçada da polícia na sua habitação.
A proposta do Bloco de Esquerda prevê ainda uma modificação da política de solos que garanta uma
organização coletiva, que privilegie a equidade social; deve ainda garantir a compatibilização com os diferentes
usos do solo e a resposta à ameaça das alterações climáticas. O ordenamento do território e as operações
devem estar sujeitas ao interesse público e potenciar a utilização das infraestruturas existentes, evitando um
desenvolvimento urbano em mancha de óleo que dificulta a concretização de serviços públicos.