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I SÉRIE — NÚMERO 39

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Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Os Correios, ao longo de mais de cinco séculos, asseguraram a

prestação dos serviços postais em condições que lhe permitiram granjear o apreço da generalidade dos

cidadãos e todas as entidades que a eles recorreram.

Vai longínquo o ano de 1606, quando o rei Filipe II, III de Castela, vendeu o cargo de Correio-Mor do Reino

por 70 000 cruzados. Ficaram os Correios submetidos, durante quase 200 anos, aos interesses de um fidalgo

que pôs e dispôs do título até que novo decreto real finalmente reintegrou o serviço postal no Estado.

A nova fidalguia que, neste século XXI, comprou os nossos Correios, não por 70 000 cruzados, mas por 909

milhões de euros, lançou uma nova vaga de assalto ao serviço público, tentando reduzir os CTT a uma licença

bancária.

Hoje, como há 400 anos, há quem aproveite a maré da ingerência, da agressão ao povo e da traição ao

interesse nacional para amassar milhões com os sacrifícios do País. Continuam a viver acima das nossas

possibilidades e, por mais que lhes dermos, dirão sempre que não chega.

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, peço-lhe para concluir.

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Mas hoje, como sempre, há quem não desista de lutar e de defender os direitos

das populações e dos trabalhadores, o interesse nacional, a coesão territorial, a própria soberania.

Inevitável é a luta, Srs. Deputados. Os Correios hão de voltar a ser do povo e é na primeira linha dessa luta

que está, e continuará a estar, o Partido Comunista Português.

Aplausos do PCP.

O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, a Mesa regista cinco inscrições de Deputados para pedidos de

esclarecimento. Como pretende responder?

O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, responderei primeiro aos dois primeiros Srs. Deputados e depois

aos restantes.

O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Bruno Dias, queria começar por

saudá-lo por ter trazido os CTT para debate. Aliás, Os Verdes vão também hoje fazer uma declaração política

sobre esta matéria e duas declarações políticas sobre os CTT atestam bem a importância do debate deste

assunto.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Muito bem!

O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Deputado Bruno Dias, como bem referiu, esta privatização feita

pelo PSD e pelo CDS veio trazer consequências muito negativas não só para o Estado, mas também para as

populações e, ainda, para os trabalhadores.

Quando olhamos para os números, percebemos que em 2017, por exemplo, a empresa CTT lucrou 27

milhões de euros, mas distribuiu o dobro pelos acionistas. Ou seja, foram distribuídos 57 milhões de euros só

num ano.

Mas mais: desde a privatização até ao final de 2018, terão sido distribuídos 329 milhões de euros em

dividendos, ou seja, quatro vezes mais do que o seu próprio capital social.

Se tivermos em conta que em apenas cinco anos o tráfego caiu 23% e que, ainda assim, os lucros se

mantiveram, somos tentados a concluir que quem «cabritos vende e cabras não tem de algum lado ele vem»!

E de onde vêm os lucros? Vêm, desde logo, da descapitalização da empresa, do incumprimento das

obrigações do contrato de concessão, nomeadamente dos encerramentos a que o Sr. Deputado fez referência,

mas também do atropelo que está a ser feito aos direitos dos trabalhadores dos CTT e, por fim, do aumento

brutal do custo do correio normal que, entre 2013 e 2017, conheceu um aumento de 56%, com grave prejuízo

para as populações.