I SÉRIE — NÚMERO 58
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Ministro Lavrov, à saída, disse que Portugal e a Rússia iriam atuar em várias áreas, designadamente na área
da internet e nesse tipo de domínio.
Não é irrelevante, Sr. Deputado. Não é irrelevante e é muito importante. O CDS perguntou ao Governo e não
obtivemos resposta, até hoje, em relação a essa matéria.
A minha segunda questão diz respeito ao facto de o conjunto de ideias que o Sr. Deputado lança poderem,
no limite, ser vistas como uma crítica ao Governo. De facto, essas ideias resultam de princípios europeus sobre
esta matéria que, supostamente, o Governo estará a seguir — todas elas. Portanto, podem até ser vistas como
uma crítica da sua parte ao Governo, por inação, mas concordamos que tenha que as apresentar, não temos
problema com isso.
Certo é que os países que mais têm lidado com esta matéria, têm-no feito com outra abordagem.
Designadamente, veja o exemplo alemão, que passou muito pelo debate, por exemplo, no âmbito do Conselho
Europeu, que é um regime sancionatório sério, severo, contra a desinformação, designadamente atingindo as
plataformas, atingindo os divulgadores.
Pergunto-lhe, Sr. Deputado, se considera ou não que esse caminho também deve ser trilhado — a França
parece também querer trilhar esse caminho; é uma preocupação legítima — ou se basta, de alguma forma, esta
atuação que propõe, seja em relação aos algoritmos, seja em relação à proteção cibernética, seja em relação
ao esclarecimento e à literacia mediática, por assim dizer.
É isso que lhe pergunto, Sr. Deputado, reconhecendo que o tema é importante, mas admitindo também que
não avançaremos muito só com esta resolução.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para um pedido de esclarecimento, tem a palavra a Sr.ª Deputada Diana Ferreira, do
Grupo Parlamentar do PCP.
A Sr.ª DianaFerreira (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, gostaria desde já, Sr. Deputado José
Magalhães, de cumprimentar o Grupo Parlamentar do Partido Socialista pelo debate marcado e pelo tema que
trouxe a debate.
Sobre esta matéria, importa começar por dizer que a difusão de informações ou de conteúdos falsos, a
manipulação da informação que existe não é uma realidade nova, não é uma realidade recente, são velhas
realidades que persistem hoje e que assumem um destaque diferente, fruto também dos meios que são
utilizados para a sua divulgação, designadamente nas redes sociais, como aqui tanto temos falado. Essa é,
naturalmente, uma realidade que entendemos dever ser analisada, que nos merece atenção e, naturalmente,
preocupação.
Mas a discussão sobre a desinformação, sobre a informação falsa, sobre a difusão e promoção de conteúdos
falsos não se pode resumir à questão das redes sociais. E se é verdade que, com as redes sociais ou com as
aplicações digitais, há uma nova dimensão na divulgação de conteúdos falsos e há mesmo uma celeridade
maior nessa mesma divulgação, é também verdade que na comunicação social essa é uma realidade que
também existe e que não surge por acaso.
Hoje, temos a concentração num punhado de grupos económicos de órgãos de comunicação social, de
plataformas de média, de diferentes formas de produção e divulgação de conteúdos. Hoje, o poder da
informação está esmagadoramente nas mãos de grupos económicos que usam o poder económico que têm e
os meios dos quais são proprietários para produzirem os conteúdos que mais lhes interessam ou para
divulgarem a informação que melhor serve os seus interesses. E neste momento, neste debate, uma das
questões fundamentais que entendemos que se deve colocar é a de a quem serve a manipulação da informação
e a informação falsa que é disseminada. Essa é uma das questões que nós deixamos ao PS: quem lucra com
tudo isso?
Lembremos, a título de exemplo, as consequências das falsas informações sobre a existência de armas de
destruição em massa no Iraque, informações que mais tarde se confirmaram ser mentira, mas que, na altura, a
comunicação social dominante reproduziu, amplificando, acriticamente, tudo aquilo que a administração norte-
americana afirmou. Mentiras que foram fabricadas, que resultaram numa guerra, que resultaram na invasão e
na destruição de um país, com consequências tenebrosas para o seu povo.