I SÉRIE — NÚMERO 63
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Tem sido produzida diversa legislação no sentido de combater o crime de violência doméstica, têm sido
construídos diversos planos, diversos programas, diversas estratégias, mas a verdade, Sr.as e Srs. Deputados,
é que temos de olhar para a realidade concreta e os números falam por si. O número de queixas e o número de
vítimas — designadamente de vítimas mortais — são profundamente preocupantes e este ano, de facto,
comparado com o período homólogo do ano passado, há uma escalada nas consequências hediondas deste
crime absolutamente horrível, que ainda afeta tão silenciosamente muitas e muitas mulheres.
Por isso, também o poder político não deve cruzar os braços, pensando que, em termos legislativos e de
planeamento, digamos assim, está tudo mais ou menos concretizado. Devemos estar atentos à realidade e agir
em consonância e consequentemente face a esta realidade que conhecemos.
Por esta razão, Os Verdes consideram que é fundamental — já aqui o dissemos — que a formação de
profissionais seja feita de forma continuada e recorrente, de modo a produzir efeitos concretos, designadamente
no que se refere a uma questão essencial: o apoio à vítima.
Sr.as e Srs. Deputados, os partidos que apresentam projetos relativamente a esta matéria esquecem
deliberadamente, julgamos nós, uma questão fundamental: o reforço de meios para dar as respostas
necessárias. Temos meios suficientes a nível das forças de segurança para o efeito? Não temos! Temos meios
suficientes a nível da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, com técnicos suficientes? Não temos! Temos
técnicos suficientes a nível da segurança social? Não temos, Sr.as e Srs. Deputados!
Por isso, quando o PSD, no Governo, com o CDS, despedia e se descartava de funcionários públicos, o que
estava a fazer era justamente fragilizar as respostas que o sistema e os serviços públicos poderiam dar, não só
nestas matérias, como noutras.
Srs. Deputados, o reforço de meios é uma questão de facto, não deve ser descurada e deve ser colocada no
centro da discussão relativamente também a esta matéria da violência doméstica. Quando falamos do apoio à
vítima é fundamental não só a formação de meios, mas também que haja um número suficiente de meios para
que essa resposta seja dada.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Atenção ao tempo, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, nesse sentido, era isto que Os Verdes gostariam
de salientar neste debate.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Susana
Amador, do Partido Socialista.
A Sr.ª Susana Amador (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Voltamos a discutir a violência
doméstica, um tema que está na ordem do dia e que é importante que continue na ordem do dia, pois é um
combate sem tréguas que todos temos de travar. É um combate de todos e da sociedade em particular que,
felizmente, está cada vez mais desperta para o impacto e para a devastação deste crime.
A violência contra as mulheres é um obstáculo à efetivação da igualdade e é uma fragilização da própria
democracia e, por isso, a sua erradicação é, para o Partido Socialista, um imperativo indeclinável. Aliás, vamos
falar de ação. O Partido Socialista, no Programa do Governo, estabelece mesmo a necessidade imperiosa de
coordenar e de acompanhar «estratégias transversais de combate à violência de género e violência doméstica,
enfatizando as ações de formação, sensibilização, prevenção […] articuladas com as forças de segurança, o
sistema judicial e os mecanismos de proteção social».
Temos uma agenda permanente para a igualdade e para o combate à violência doméstica que, aliás, está
bem espelhada na Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não-Discriminação e no Plano de Ação para a
Prevenção e o Combate à Violência contra as Mulheres e a Violência Doméstica. Este último já nos conduziu a
celebrar protocolos de cooperação para a formação especializada de advogados, de magistrados, de
profissionais e a levar a cabo ações consequentes, onde a questão da violência doméstica é trabalhada com
estes profissionais, envolvendo a Ordem dos Advogados, o Centro de Estudos Judiciários e a Procuradoria-
Geral da República.