16 DE MARÇO DE 2019
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Queremos conhecer para melhor agir, estudar para depois intervir, não fazendo tudo ao mesmo tempo, para
evitar que tudo fique na mesma.
Os call centers empregam, hoje, mais de 80 000 trabalhadores em muitos setores distintos de atividade, mas
conhecemos muito pouco sobre eles. Não sabemos muito sobre eles e, por isso, queremos respostas para
várias questões que se relacionam com este setor.
O trabalho, na maioria dos call centers, é exercido de forma ininterrupta por longos períodos de tempo em
cada jornada, com implicações na duração e na qualidade das pausas, mas que vai muito para além disso, com
questões de segmentação, de tarefas repetitivas, de especialização, de execução de tarefas com pouca
autonomia, que provocam uniformização, desgaste psicológico, grande exigência física e emocional. A tudo isto
acrescem várias denúncias e relatos de recurso a muito trabalho temporário e à existência de uma larga franja
de baixos salários.
Para o Partido Socialista é muito importante substituir este modelo, onde mais lucro corresponde a menos
salário, por um modelo com mais justiça e mais redistribuição.
Queremos mudar esta realidade e, para a mudar, precisamos de saber onde estão estas más práticas,
identificá-las, isolá-las e criar condições para que sejam eliminadas. Para isso, é fundamental conhecer o espaço
onde estas atividades são exercidas e as relações laborais estabelecidas, as condições de higiene e segurança,
a ergonomia, o respeito pelas normas de descanso, a estabilidade dos horários, entre muitas outras dimensões.
É isso que pretendemos com este projeto de resolução. O PS propõe que o Governo, através do Gabinete
de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, elabore um estudo
sobre a realidade dos call centers em Portugal, que seja centrado nas dimensões relevantes para o bem-estar
físico e psicológico dos trabalhadores.
Damos, assim, um passo muito relevante para que, em breve, consigamos regulamentar a profissão, tendo
por base uma radiografia social e laboral fidedigna, envolvendo o maior consenso possível com a Assembleia,
o Governo e os parceiros sociais.
É na resposta a estes trabalhadores que o Partido Socialista dá o tiro de partida para a regulamentação do
setor em Portugal, com o estudo a que o Governo fica obrigado, caso, como esperamos, o nosso projeto possa,
hoje, ser aprovado.
Não podemos aceitar que más práticas manchem todo um setor e não admitimos que ele se mantenha como
uma espécie de lado negro das relações em Portugal, porque isso não é justo, isso não é digno e isso,
certamente, não corresponde à visão de competitividade em que acreditamos que a nossa economia deve
assentar.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Matos Correia): — Sr. Deputado Tiago Barbosa Ribeiro, muito obrigado, desde logo
pelo exemplo de contenção que nos deu.
Vozes do PS: — Muito bem!
Aplausos do Deputado do PS Alexandre Quintanilha.
O Sr. Presidente (José Matos Correia): — Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Isabel
Pires.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados e Sr.as Deputadas: Desde o início deste ano, este
é o terceiro debate parlamentar sobre os problemas que assolam os trabalhadores e as trabalhadoras de call
center, ou centros de contacto, o que denota bem a importância do tema.
Este setor de atividade existe no nosso País há, pelo menos, duas décadas, e é inegável que a sua evolução
andou lado a lado com a evolução de empresas de trabalho temporário e de prestação de serviços ou
outsourcing. Logo por aí, enquanto modelo de trabalho, isto significa que é um setor que cresceu a par com
práticas de precariedade, e, exatamente por ser um setor que terá mais de 80 000 trabalhadores, merece ser