I SÉRIE — NÚMERO 63
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olhado com atenção, tanto pelo modelo de trabalho que preconiza, como pelas condições de um trabalho que é
exigente, física e psicologicamente.
Achamos que todas as profissões merecem dignidade e, por isso mesmo, é preciso agir sobre aquelas que
ainda não têm regulamentação.
Srs. Deputados, Sr. Deputado Tiago Barbosa Ribeiro, há problemas bem identificados, por trabalhadores e
por sindicatos: horários de trabalho que não se compadecem com o ritmo exigido; pausas demasiado curtas;
clima potenciador de assédio moral, em nome de competitividade e de metas; doenças do foro auditivo ou
respiratório e doenças ergonómicas e psicológicas, onde o burnout tem uma grande incidência.
O Bloco de Esquerda tem feito um caminho de vários anos de combate à precariedade. E, ao contrário do
que alguns têm tentado dizer nestes debates, não descobrimos que existem call centers, ou que eles apresentam
problemas laborais, há um ou dois anos, tal como não apresentámos propostas apenas agora. Não! Temos feito
caminho desde o primeiro momento em que colocámos o debate sobre a precariedade nesta Assembleia, bem
como várias propostas — algumas já em discussão em sede de especialidade — relativas ao combate à
precariedade, com influência neste setor.
Mas, para este setor, apresentamos um projeto que tem propostas importantes. Em primeiro lugar, porque
uma ação nacional introspetiva permite identificar os locais onde não está a ser respeitada a lei e regularizar as
situações, permitindo, por outro lado, ter uma informação nacional, para criar planos de intervenção em
conformidade. Em segundo lugar, porque é demais evidente, hoje, para os vários atores do setor, que há um
problema de falta de regulamentação. E esta inexistência de regulamentação desprotege mais de 80 000
trabalhadores e trabalhadoras, seja na higiene e saúde no trabalho, seja nos horários de trabalho que não se
coadunam com a penosidade da profissão.
Basta ir a dois ou três países para perceber que — no Brasil ou em Itália, por exemplo — é proibido trabalhar
mais de seis horas diárias nesta profissão, tendo os trabalhadores pausas fixas obrigatórias, o que não acontece
em Portugal.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, achamos que é urgente regulamentar a profissão em contact center,
porque é urgente dar respostas a problemas que muitos e muitas vivem, há décadas, no nosso País.
Existem estudos académicos sobre os problemas identificados — em Lisboa, em Coimbra, por exemplo — e
estudos internacionais, existem relatos e denúncias dos sindicatos e trabalhadores e, portanto, achamos que
não é verdade que não seja uma realidade conhecida. Falta a regulamentação, que hoje se propõe, tal como a
fiscalização que permita o cumprimento de direitos laborais essenciais.
Não deixaremos de responder à responsabilidade que nos cabe e de avançar nesta matéria, em prol dos
trabalhadores e das trabalhadoras.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Matos Correia): — Sr.ª Deputada Isabel Pires, muito obrigado por se ter mantido
dentro dos limites da tolerância, no que respeita ao tempo de intervenção.
Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Rita Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr. Presidente e Srs. Deputados: Hoje voltamos a discutir as matérias relativas à
criação e à regulamentação da profissão de operador de call center.
Queria começar por dizer, Sr. Deputado Tiago Barbosa Ribeiro, que não é verdade que se conheça pouco.
Aliás, sobre este setor conhece-se muito e o que se conhece não é boa coisa,….
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Ora, exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — … e já se conhece há vários anos.
Aquilo que sabemos é que o setor dos call centers foi um tubo de ensaio para a subcontratação e para o
afastamento da contratação coletiva a trabalhadores que respondem a necessidades permanentes.
Não é verdade que se conheça pouco e não é verdade que não tenha existido solicitação, por parte das
organizações representativas dos trabalhadores, para que a Autoridade para as Condições de Trabalho
interviesse, para que se conhecesse melhor e se combatesse a exploração destes trabalhadores.