16 DE MARÇO DE 2019
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Este é um setor marcado pela precariedade, pela subcontratação, pelo salário mínimo nacional. Nele existem
cerca de 80 000 trabalhadores, neste País, respondendo a grupos económicos que amassam os seus lucros,
mas que sobrevivem com o salário mínimo nacional e com funções e trabalho altamente qualificado.
Por isso, queria também dizer que, no nosso entendimento, no momento em que discutimos a criação e a
regulamentação da profissão, deve existir coerência com o aumento dos salários, o combate à precariedade e
a defesa da contratação coletiva.
É que, Sr. Deputado Tiago Barbosa Ribeiro, permita-me também que lhe diga — neste debate, creio eu, não
vale a pena dirigir-me ao PSD e ao CDS mas, antes, ao PS — que criar e regulamentar a profissão deve ter
como objetivo, em primeiro lugar, valorizar salários e combater a precariedade.
Há setores onde, hoje, no nosso País, não estando criada ainda a profissão, é possível valorizar salários.
Vou dar-lhe dois exemplos: os call centers da Fidelidade e os call centers da EDP. Aqui existe contratação
coletiva. O que é que impede, hoje, a aplicação da contratação coletiva,…
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Nada!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — … o aumento dos salários destes trabalhadores, ou seja, aplicar o acordo de
empresa de cada uma destas empresas?! É a falta de vontade das entidades patronais.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Só isso é que impede! Não é por não existir, neste momento, a profissão que não
se aplica a contratação coletiva, é porque o patronato não quer, quer continuar a ter trabalhadores que garantam
funções permanentes dos grupos económicos mas que ganhem o salário mínimo nacional,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — … tenham horários de trabalho desumanos e não tenham condições de trabalho,
por exemplo, ao nível dos equipamentos pessoais, que são transmissíveis e que, por isso mesmo, não são
equipamentos pessoais de trabalho.
Por isso, Sr. Presidente — fazendo um esforço de cumprimento dos tempos, porque compreendemos que
há várias matérias hoje a discussão —, o que queremos dizer é que o PCP cá estará para lutar pela criação e
pela regulamentação da profissão, tendo sempre como perspetiva o combate à precariedade, o aumento dos
salários, as 35 horas de trabalho por semana para todos os trabalhadores, porque isso é condição de
desenvolvimento do País e defesa da vida destes trabalhadores.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Matos Correia): — Sr.ª Deputada Rita Rato, muito obrigado também pelo
cumprimento do tempo de intervenção.
Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Os call centers, ou centros
de contacto, tornaram-se um meio privilegiado de contacto entre as empresas e os cidadãos, sendo até notórias
as situações em que esse contacto é realizado exclusivamente por telefone.
Ora, esta nova realidade levou, por um lado, ao encerramento de muitas lojas físicas e ao consequente
despedimento de trabalhadores e, por outro, a um aumento significativo dos trabalhadores nos centros de
contacto. No entanto, esta profissão não se encontra regulamentada em Portugal, o que acaba por promover
um conjunto de problemas e de injustiças.
De acordo com os dados disponíveis, estima-se que, em Portugal, existam cerca de 100 000 operadores nos
centros de contacto.
Sucede que a grande maioria desses trabalhadores são contratados por empresas de prestação de serviços
ou empresas de trabalho temporário, apesar de haver uma necessidade permanente destes profissionais.