30 DE MARÇO DE 2019
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portuguesa de que «um voto não faz mal nenhum». Ora, é exatamente neste ponto que o Deputado subscritor
desta declaração discorda profundamente. A Assembleia da República, órgão de soberania, não pode vulgarizar
a sua palavra, não pode descer ao nível da rua, do bairro, do amigo que se revelou na conquista do torneio de
sueca. A Assembleia da República deve garantir para si uma representação e uma voz nacional perante
personalidades e questões nacionais ou internacionais relevantes.
O voto de congratulação sobre o desempenho de padres portugueses nos Campeonatos de Futsal do Clero
revela o ponto a que chegámos. Não que os sacerdotes não sejam habilidosos jogadores, não que não mereçam
o nosso respeito e a nossa homenagem. Mas estamos no Parlamento nacional…
Por outro lado, este voto desgradua o papel da instituição mais relevante ao longo dos séculos. Esta, a Igreja
Católica, deve ser motivo de considerações parlamentares por grandes questões de sociedade, pelas grandes
figuras que a ela estão ligadas. Não nos parece que os campeonatos de futsal mereçam sequer uma nota de
rodapé nos anais da vida coletiva e do País maioritariamente cristão que ainda somos.
É exatamente por ter expirado o tempo da nossa tolerância aos votos sem sentido, e que o Parlamento vem
aprovando, que fazemos registar o nosso protesto nesta sessão plenária através desta proclamação.
Os Deputados não podem deixar de fazer, na próxima legislatura, uma análise sobre o seu papel, enquanto
integrantes de um órgão de soberania, sobre a sua intervenção parlamentar e sobre a dimensão das suas
posições e decisões.
O Deputado do Grupo Parlamentar do PS, Ascenso Simões.
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Não tenho dúvidas de que o hat-trick do Padre Meireles, sob a liderança do capitão Padre Gil e o comando
do Mister Ricardo Costa, terá sido brilhante. Obviamente que me congratulo pela vitória da seleção de futsal do
clero.
Mas, para além da substância, a forma do voto é inapropriada. A Assembleia da República para ser
respeitada deve fazer-se respeitar. A forma deste voto, em tom de crónica desportiva estaria bem num jornal
regional, mas não na Assembleia da República. Antes do 25 de Abril Portugal era futebol, fado e Fátima. Não
pretendo regressar a esse tempo.
O Deputado não inscrito, Paulo Trigo Pereira.
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Relativa ao Voto n.º 793/XIII/4.ª:
Abstive-me na votação em causa por entender que, sendo o Reino de Espanha um Estado de direito
democrático, onde vigora o princípio da separação de poderes, a Assembleia da República deve abster-se de
qualquer pronúncia sobre decisões judiciais espanholas, sob pena de, não o fazendo, se abrir a via para fazer
aprovar amanhã um voto de reprovação ao mesmo Estado soberano, caso uma outra decisão venha a
desagradar a sensibilidade dos proponentes do voto. Não votei contra porque, apesar de tudo, o voto resulta
encomiástico para o destinatário, não se antecipando, por isso, melindres diplomáticos, e também porque me
identifico com as preocupações com o bem-estar animal subjacentes ao voto.
O Deputado do Grupo Parlamentar do PS, Filipe Neto Brandão.
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Relativa ao texto final, apresentado pela Comissão de Saúde, relativo ao Projeto de Lei n.º 995/XIII/4.ª:
Foi hoje votado, em sessão plenária, o Projeto de Lei n.º 995/XIII/4.ª, relativo à manutenção de farmácias de
dispensa de medicamentos ao público nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde.