4 DE MAIO DE 2019
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Esta constatação, mais ou menos óbvia para quem lê atentamente a iniciativa, levanta alguns problemas que
esbarram, por um lado, com o investimento em curso — o Ferrovia 2020 — e, por outro, com o plano de
investimentos previstos para a ferrovia, no quadro do Programa Nacional de Investimentos.
Neste contexto, sublinhamos e felicitamos o esforço e capacidade de iniciativa do Bloco de Esquerda, mas
julgamos que todos compreendem ser pouco prudente seguir um caminho onde projetos de investimentos se
misturam, se atropelam e alguns deles, apesar do seu impacto estrutural, não foram, sequer, alvo de um debate
e discussão mais alargado ao longo do País.
Protestos do Deputado do BE Heitor de Sousa.
Na prática, Sr. Presidente, consideramos muito importante a construção de um plano nacional ferroviário,
mas o seu desenho implica diagnósticos, pressupostos, designadamente da procura e da dimensão dos núcleos
urbanos a ligar, por exemplo; cenários alternativos, linhas mistas de mercadorias e passageiros ou apenas de
mercadorias, por exemplo; a identificação de modelos de ligação a Espanha e à Europa mais competitivos e
ambientalmente sustentados, comparando com outros meios de transporte; análises custo/benefício; avaliação
de tendências, por exemplo, o papel de cada transporte e os efeitos da transição energética; e integração
adequada na estratégia nacional de mobilidade.
Todas estas matérias e outras, que ultrapassam a determinação dos investimentos efetivos, implicam, ou
deveriam implicar, uma ampla e profunda discussão ao longo do País, envolvendo a sociedade civil, sejam as
autarquias, sejam as associações empresariais, sejam ainda os movimentos de cidadãos e de consumidores.
De forma muito clara, nada disto aconteceu com a iniciativa agora apresentada, estando esta conclusão
absolutamente demonstrada pelo projeto do Bloco de Esquerda, que surge sem debate e, ainda por cima, ao
cair do pano, no fim da Legislatura.
De resto, se o Grupo Parlamentar do Partido Socialista considerou absolutamente essencial a discussão
alargada do Programa Nacional de Investimentos, de modo a gerar consensos, não mudará de opinião agora,
mesmo que apenas estejamos perante um plano de investimentos que ambicione ser um plano ferroviário
nacional.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr. Deputado, inscreveram-se três Deputados para formular
pedidos de esclarecimento. Como pretende responder?
O Sr. CarlosPereira (PS): — Responderei em conjunto, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem, então, a palavra, em primeiro lugar, a Sr.ª Deputada
Maria Manuel Rola, do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Maria Manuel Rola (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Carlos Pereira, como saberá, o setor dos
transportes é um dos maiores emissores de CO2 em Portugal. Em 2017, 72,4% das emissões tinham origem
neste grande setor da energia, no qual um quarto era proveniente dos transportes.
De facto, entre 1990 e 2017, as emissões dos transportes aumentaram 68%, num setor que é dominado pelo
tráfego rodoviário.
Sabemos que avanços fizemos para travar o combate às alterações climáticas nesta frente. Aliás, uma das
principais vitórias da maioria desta Legislatura e um dos principais pontos em que o Partido Socialista se
aproximou do Bloco de Esquerda foi no reconhecimento da necessidade de travar as privatizações em curso
nos transportes públicos, planeadas pelo anterior Governo. E foi essa aproximação que nos permitiu também
este ano implementar os passes e as tarifas sociais em todo o País. Estes foram passos extremamente
importantes, mas não suficientes para fazer face ao Acordo de Paris e à necessária neutralidade carbónica, Sr.
Deputado.
Portugal mantém-se na cauda da Europa, no que concerne a densidade ferroviária, e no topo dos consumos
de CO2, por ocupar o quinto lugar na rede mais densa a nível rodoviário.