30 DE MAIO DE 2019
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Srs. Deputados, Sr.as Deputadas, neste momento tão delicado para o futuro da Europa, as negociações em
torno das funções europeias não se podem resumir a uma guerra de cadeiras. Todos têm de sair das trincheiras.
Repito, nesta Casa, todos têm de sair das suas trincheiras. Por isso, o PSD lança hoje um apelo, um apelo ao
Governo português, ao Dr. António Costa, que participa nas negociações porque é chefe de Governo, não
porque somente pertence à família socialista.
Aplausos do PSD.
Como tal, deve ter em primeira linha o interesse nacional na forma como conduz essas negociações. É esse
o nosso apelo, porque o Dr. António Costa ontem disse que não se discutiram nomes, apenas perfis, para os
cargos de topo, mas, ao mesmo tempo, deu uma entrevista muito estranha em que se referiu precisamente a
nomes, fazendo aquilo que os comentadores internacionais apelidaram de «ataque ad hominem» ao
Spitzenkandidat do PPE (Partido Popular Europeu). Ou seja, não há coerência entre estas duas declarações.
A perspetiva negocial do Governo português sobre os perfis para liderar os destinos da União, nas suas
diversas instituições e funções de topo, deve reger-se pela importância concedida às seguintes matérias, sendo
este o caderno de encargos que o Dr. António Costa, chefe do Governo português, leva para estas negociações:
em primeiro lugar, o próximo quadro financeiro plurianual. Queremos líderes de topo que sejam campeões da
política de coesão; que lutem contra as assimetrias regionais na Europa…
Protestos do PS.
Ouçam, Srs. Deputados. Como estava a dizer, queremos líderes de topo que contrariem os cortes previstos
para a política de coesão para Portugal, que se perspetiva na ordem dos 7%; que percebam a natureza da
aplicação de fundos da política agrícola comum em Portugal, onde não podemos aceitar impavidamente cortes
no 2.º pilar para o desenvolvimento rural; que defendam uma política de pescas comum dinâmica para o setor
marítimo; que não se cinja à prosperidade do centro europeu, mas que olhe para as regiões mais distantes, no
continente e, em particular, nas regiões ultraperiféricas, essenciais para dar dimensão global e marítima à União
Europeia; que lhes dê mecanismos para garantir o seu desenvolvimento, como através de derrogações e
regimes como o Centro Internacional de Negócios da Madeira.
Em termos da política externa da União, queremos uma União que não vacile na defesa da democracia a
nível internacional, que não hesite no cinzentismo, que, por exemplo, siga o corajoso exemplo do Parlamento
Europeu aquando do seu célere reconhecimento de Juan Guaidó como Presidente interino da Venezuela; que
solidifiquem a União a nível das relações internacionais, como pivot do multilateralismo num mundo em que
cresce o isolacionismo; que contribuam proactivamente para a resposta europeia à urgência climática que assola
o nosso planeta; e, não esquecer, que saibam defender os interesses dos cidadãos na conclusão do processo
do Brexit, seja qual for o seu desfecho.
É esse, e só esse, que deve ser o interesse primordial do Governo português e é isso que importa. Não são
as contabilidades partidárias, Srs. Deputados. Não são, somente, as sensibilidades das famílias partidárias
europeias, nem mesmo, Srs. Deputados, exportar ou não o modelo da geringonça, modelo esse que o próprio
chefe do Governo português, Dr. António Costa, já começou ativamente a descartar para longe de si, e que é
precisamente o contrário da aliança que julga possível no Parlamento Europeu, Srs. Deputados.
Se se insistir nessas metas puramente partidárias, então o Governo socialista estará somente a dar razão
aos 69,27% de abstencionistas portugueses nestas últimas eleições europeias em Portugal E, mais:
simultaneamente, iria significar a negação da afirmação do Presidente da República, quando este disse que dois
terços dos portugueses são pró-europeístas, referindo-se ao conjunto de eleitores do PS, do PSD, do CDS-PP,
da Aliança e da Iniciativa Liberal.
É esse o caderno de encargos que o chefe do Governo português carrega para estas negociações que
começaram ontem, tão fulcrais para o futuro da Europa, tão essenciais para o povo português.
Aplausos do PSD.