30 DE MAIO DE 2019
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semanas, um projeto para a União Europeia que, de certa forma, surpreendeu quem assistiu ao que se passou
em Portugal nos últimos quatro anos.
Tendo, até, a Sr.ª Deputada uma experiência governativa e, por isso, conhecendo os meandros das diversas
pressões que foram feitas sobre Portugal e sobre as escolhas ao arrepio das determinadas pela Comissão
Europeia, devo dizer que a pergunta mais óbvia que deve ser feita ao Partido Socialista é esta: que ilações retira
dos resultados, à escala europeia, da sua escolha da frente progressista?
Foi indicado que essa frente existiria para fazer face ao crescimento da extrema-direita e para o estancar e,
por isso, o PS decidiu dar a mão aos liberais europeus e, em primeiro lugar, a Emmanuel Macron. Pergunto-lhe
se o resultado da ação desses liberais, em particular de Emmanuel Macron, nessa tentativa de estancar o
avanço da extrema-direita, serve para tranquilizar o Partido Socialista.
É que, se olharmos para a França, percebemos que não foram os liberais que estancaram a extrema-direita,
se olharmos para o resto da Europa, vemos que não foram os liberais que estancaram o avanço da extrema-
direita e concluímos que não foram as políticas liberais ou de austeridade que estancaram o avanço da extrema-
direita. É nos casos em que rompemos com essas políticas que não vemos extrema-direita, como acontece em
Portugal.
Por isso, a pergunta que lhe faço é no sentido de saber se a conclusão que retiram é a de que, de facto, se
enganaram — acontece! —,…
Entretanto, reassumiu a presidência o Presidente, Eduardo Ferro Rodrigues.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, tem de concluir.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — … e reconhecem que a escolha feita em Portugal é determinante para
estancar a extrema-direita ou se vão continuar a achar que é na política liberal que têm essa saída.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe, do Grupo
Parlamentar do PCP.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Maria Manuel Leitão Marques, na sua
intervenção, referiu-se àquilo que considera terem sido três vitórias.
Naturalmente, felicito o Partido Socialista, através de si, pelo resultado que obteve, e felicito-a a si e às Sr.as
Deputadas Margarida Marques, que ainda agora interveio, e Isabel Santos, Deputadas que integram esta
Assembleia, pela eleição para o Parlamento Europeu.
Relativamente às outras vitórias, referiu-se à vitória da democracia e à vitória da União Europeia.
Evidentemente, as eleições livres são sempre uma vitória da democracia, uma manifestação democrática, mas
não podemos deixar de nos inquietar quando verificamos que ainda há um número tão elevado de concidadãos
nossos que se alheiam do processo eleitoral.
Sabemos que os cidadãos sentem pouco a importância da União Europeia e, aliás, as eleições para o
Parlamento Europeu têm, normalmente, entre nós, taxas de afluência às urnas muito mais baixas do que as
demais eleições, designadamente para a Assembleia da República, para a Presidência da República ou mesmo
para as autarquias locais. Sabemos disso, mas não nos podemos conformar e todos devemos trabalhar para
combater o alheamento de um número muito elevado de cidadãos, sobretudo quando esse alheamento pode
expressar algum repúdio pela vida política e ser uma emanação de um ambiente, que eu diria também mediático,
de contestação da vida política, de generalização das acusações à atividade política, enfim, um ambiente que
não é exclusivo de Portugal mas que também se manifesta no nosso País e que não pode deixar de merecer a
nossa preocupação.
Relativamente àquilo que a Sr.ª Deputada considera como sendo a vitória da União Europeia, creio que não
posso compartilhar essa sua consideração porque, na verdade, todos nos podemos congratular por achar que,
porventura,…