I SÉRIE — NÚMERO 92
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Sr. Ministro, o Roteiro para Neutralidade Carbónica apresenta uma visão de longo prazo de transição
energética, do gasóleo e da gasolina para a eletricidade e o para o hidrogénio. Esta transição energética irá
necessitar de investimento público, mas também do envolvimento do setor privado e das famílias.
Mas há regiões do País em que, infelizmente, os transportes públicos não são solução, ou porque não
existem, ou porque não têm a frequência que os torne numa alternativa viável e compatível com a vida das
pessoas.
Falo do interior do País, onde, por vezes, a única forma de ir trabalhar ou de ir a uma consulta ao centro de
saúde, é o transporte particular.
Falo de uma realidade específica, que não pode ser esquecida neste processo de transição energética,
principalmente quando o gasóleo e a gasolina deixarem de ser custo-eficazes, que é já amanhã, ou seja, em
2030 ou 2035!
Sr. Ministro, pergunto-lhe: num momento em que se discute o próximo Quadro Comunitário de Apoio, que irá
certamente contribuir para a transição energética, numa perspetiva de coesão social e territorial, o que nos pode
adiantar sobre as soluções para o interior do País, onde não existem alternativas ao transporte individual?
Poderão vir a existir medidas de discriminação positiva para estas regiões, por via do apoio quer à aquisição
de viaturas elétricas, quer à instalação de postos de carregamento comunitários ou particulares?
O interior quer e tem que fazer parte do processo de descarbonização dos transportes!
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Heitor
de Sousa, do Bloco de Esquerda.
O Sr. Heitor de Sousa (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs.
Deputados, este debate sobre as alterações climáticas e os transportes públicos é um debate, como foi
classificado pelos seus autores, de urgência e de emergência.
Efetivamente, aquilo que verificamos, ao nível dos transportes públicos, nas principais áreas metropolitanas,
é que existe uma grande frustração e uma grande revolta pelo facto de, tendo sido anunciado um bom programa
de enorme redução da tarifa média dos transportes, redução essa que atingiu em alguns casos 70% a 75%,
estarmos agora a ser confrontados com uma enorme redução na oferta, o que faz com que muitos dos meios
que deviam estar disponíveis para permitirem a acessibilidade aos transportes públicos não o estão.
E o Secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade, sentado ao lado do Sr. Ministro, tem uma maneira muito
peculiar de resolver o problema. De facto, o Sr. Secretário de Estado resolve o problema da sobrelotação dos
veículos tirando lugares sentados e pondo as pessoas num «tudo ao molho e fé em Deus», como naquela tática
bem conhecida do Esteves para efeitos futebolísticos.
Só que, Sr. Ministro, a qualidade do serviço de transporte público de passageiros é algo que está certificado
do ponto de vista das empresas e é algo que não pode ser alterado, sob pena de, havendo uma redução, as
certificações de qualidade que estão a ser feitas aos transportes públicos deixarem de ser atribuídas e
caducarem automaticamente.
Ora, creio que o Sr. Ministro, certamente, não quer ser conhecido como o Ministro que, do ponto de vista da
certificação da qualidade de serviço dos transportes públicos, em Portugal, a fez regredir, em termos do
cumprimento das normas europeias da qualidade do serviço. É que aquilo que o Sr. Secretário de Estado se
propõe fazer traduz-se exatamente na violação dessas normas.
Assim, Sr. Ministro, pergunto-lhe se vai seguir as opiniões do seu alter ego no Governo, o Sr. Secretário de
Estado Adjunto e da Mobilidade,…
O Sr. Ministro do Ambiente e da Transição Energética: — Alter ego?!
O Sr. Heitor de Sousa (BE): — … que, pelos vistos, tem uma grande forma de resolver os problemas da
sobrelotação, que é aumentando os lugares em pé nos veículos, como, por exemplo, está a acontecer com a
Fertagus, como foi anunciado pelo metropolitano de Lisboa e como está a acontecer também nos autocarros,
que andam sobrelotados.