I SÉRIE — NÚMERO 6
6
O Sr. Duarte Marques (PSD): — Esse é outro ponto!
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sucede que, ao enfraquecermos substancialmente as competências da Assembleia da República, estamos, naturalmente, a enfraquecer também a própria democracia. Isto para além
de ser uma proposta que em nada contribui para credibilizar este órgão de soberania, bem pelo contrário.
Por isso mesmo, Os Verdes votaram contra essas propostas e consideramos que bem decidiu o Sr.
Presidente da República, porque se trata de uma pretensão que nada interessa à nossa vida democrática e à
vida parlamentar. Trata-se, a nosso ver, de uma pretensão absolutamente inqualificável e cujo atrevimento só
é, aliás, compreensível se as razões que levaram o PSD e o PS a trazê-la a debate e a votação estiverem
ligadas ao receio do combate político por parte do PSD e do PS.
Portanto, Os Verdes só podem esperar que esta decisão do Presidente da República represente um travão
definitivo a este desígnio, do PSD e do PS, de procurar fragilizar as competências da Assembleia da República
e de enfraquecer os poderes de fiscalização deste órgão de soberania sobre a atividade do Governo em matérias
tão importantes como são as questões europeias.
Por fim, lamentamos que o Presidente da República não tenha seguido o mesmo caminho relativamente à
redução ou ao fim dos debates quinzenais com o Primeiro-Ministro.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado João Pinho de Almeida, do CDS-PP.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Desde a primeira hora, o CDS foi contra este processo de relativização da fiscalização parlamentar da ação do Governo.
Portanto, o que agora acontece, fruto de um veto do Presidente da República, é o que em democracia se
exige que aconteça. Ou seja, quando há quem queira reduzir o papel do Parlamento, quando há quem queira
reduzir a intervenção das oposições na fiscalização do Governo deve, no equilíbrio de poderes, haver também
quem, neste caso o Presidente da República, diga, obviamente, que esse não é o caminho certo, que esse não
é o caminho do aprofundamento da democracia.
O que esperávamos, sinceramente, depois do veto do Sr. Presidente da República, não era que o Partido
Socialista viesse, agora, insistir num caminho claramente errado e que assim também foi considerado pelo
Presidente da República.
Estávamos à espera não que insistissem naquilo que o Sr. Presidente da República vetou, mas que
interpretassem o veto como a necessidade de também recuarem na alteração que fizeram ao Regimento da
Assembleia da República e que não poderia ter sido objeto de veto pelo Presidente da República. Ou seja,
esperávamos que percebessem que deveriam recuar não só nos debates europeus, não só no direito de petição,
mas também nos debates quinzenais e, assim, repusessem o regime anterior.
O Partido Socialista ao fazer o que está fazer não só está a afrontar o veto do Presidente da República, como
está também a afrontar o que há de mais fundamental numa democracia, que é este escrutínio parlamentar que
devemos fazer.
Portanto, no caso concreto do que estamos a discutir ⎯ os debates europeus ⎯, dizer que não se debate
Conselho a Conselho e que se debate duas vezes por semestre e que é mais ou menos a mesma coisa é de
um descaramento profundíssimo! É de um descaramento profundíssimo!
Ou seja, é considerar que, para o País, é exatamente igual discutir a agenda de um Conselho e a posição
que o Governo de Portugal vai tomar relativamente a cada um dos seus pontos ou discutir o estado da arte da
União! Mas como podem ser a mesma coisa?!
Em cada Conselho discutem-se matérias importantíssimas em que é essencial saber qual é a posição de
princípio do Governo de Portugal e em que é essencial que o Governo de Portugal, quando se vai pronunciar,
saiba muito bem quais são as posições das diferentes forças políticas neste Parlamento.
Não é debatendo sobre generalidades que conseguimos isso, é fazendo os debates concretos com a agenda
dos Conselhos. Se queremos um caso prático de como falha este tipo realidade, é vermos o que aconteceu esta
semana com a alteração dos debates quinzenais para supostos debates temáticos: a relativização da
importância do escrutínio, a relativização da interação de fiscalização concreta da ação do Governo torna o
papel do Parlamento muito mais relativo.