I SÉRIE — NÚMERO 24
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Quero apenas dizer que é verdade que o Governo não está de braços cruzados, porque o Governo está a
dormir sobre a realidade que o País está a viver e, por isso, este Orçamento só pode merecer o nosso voto
contra.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem a palavra o Sr. Deputado João Paulo Correia, do PS.
O Sr. João Paulo Correia (PS): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, o primeiro ponto que quero abordar é o do Novo Banco, porque a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua disse que o Fundo de Resolução era financiado por
impostos, e não é. Aliás — o Sr. Secretário de Estado já teve ocasião de o esclarecer —, o Fundo de Resolução
é financiado por contribuições do setor bancário, e isso faz toda a diferença neste debate.
Protestos da Deputada do BE Mariana Mortágua.
Ouvi-a pacientemente, Sr.ª Deputada.
Continuação de protestos da Deputada do BE Mariana Mortágua.
Sr.ª Deputada, ouça, por favor. Podemos debater as nossas diferenças com serenidade.
O Fundo de Resolução está no perímetro da dívida pública e do défice orçamental, porque o Sistema Europeu
de Contas de 2010 (SEC 2010) determina que aquelas entidades cuja receita lhes advém por força da lei, como
é o caso das contribuições do setor bancário, e não por serviços prestados diretamente, no caso por parte do
Fundo de Resolução aos bancos que o comparticipam, passam para o perímetro da dívida e do défice.
Em julho, quando o Bloco de Esquerda exigia ao Governo «nem mais 1 € de empréstimo ao Fundo de
Resolução para que ele o injete no Novo Banco», só isso bastava ao Bloco de Esquerda. Nessa altura, o Bloco
de Esquerda não dizia «primeiro, paga-se e depois verifica-se»; nessa altura, em julho, essa linha vermelha
bastava ao Bloco de Esquerda. Depois, mês após mês, o Bloco de Esquerda foi evoluindo nas linhas vermelhas,
sempre com o pressuposto e a vontade de continuar longe do processo de viabilização deste Orçamento do
Estado.
Mas há uma contradição que não pode passar em claro, Sr.ª Deputada Mariana Mortágua. É que o Bloco de
Esquerda vota contra o Orçamento e, como tal, por vontade do Bloco de Esquerda, nenhuma das medidas que
estamos aqui a debater, nem aquelas que são aprovadas na especialidade, seriam implementadas.
Ora, a medida relativa ao Fundo de Resolução, aquela que a Sr.ª Deputada aqui apresentou, por vontade do
Bloco de Esquerda não passa na votação final global do Orçamento. E, não passando, tal como o Orçamento,
o País viverá em regime de duodécimos, o que significa que se recuperam as regras do Orçamento do Estado
para 2020, as quais já permitem que o Estado empreste dinheiro ao Fundo de Resolução para que este o injete
no Novo Banco. A isto chama-se incoerência, Sr.ª Deputada! Incoerência! Estávamos à espera que o Bloco de
Esquerda tivesse aprendido com a sua incoerência e a sua trajetória de incoerência em matéria de Novo Banco.
Para rematar, respondendo à intervenção do Sr. Deputado Duarte Pacheco, direi que este Orçamento do
Estado é um orçamento de combate, porque responde com grande investimento no combate à pandemia: o
reforço do Serviço Nacional de Saúde, a contratação de 4200 profissionais para o Serviço Nacional de Saúde,
a contratação de 260 profissionais para o INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica) e outras medidas de
investimento nos cuidados primários de saúde e nos centros hospitalares. E o que é que fez o PSD? Na
generalidade, chumbou o Orçamento!
Este Orçamento, na sua dimensão social, vem reforçar a segurança social, vem reforçar as prestações
sociais e abrange uma nova prestação social que foi aqui submetida, à Assembleia da República, no dia 12 de
outubro. E o que é que fez o PSD? Chumbou-a!
O PSD, no dia 12 de outubro, no debate na generalidade deste Orçamento, veio dizer «estamos contra o
Orçamento do Estado para 2021, porque este Orçamento dá tudo a todos», mas, depois, quando olhámos para
as propostas do PSD, vimos duas bombas orçamentais que contradizem aquilo que os senhores dizem agora
ser a vossa responsabilidade.