16 DE JANEIRO DE 2021
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aconteceram, como mantiveram uma visão desatualizada quanto à realidade destes profissionais, que
estiveram, e estão, sem qualquer apoio social há largos meses.
Assumindo, então, que é absolutamente necessário tomar uma posição e iniciar um processo rápido e
determinado — informado, bem sabemos — para aferir a viabilidade das hipóteses disponíveis para suprir as
lacunas existentes e suas consequências, é essencial, em nosso entender, a elaboração de um estudo exaustivo
sobre a viabilidade da integração total da Caixa de Previdência dos Advogados e Solicitadores na segurança
social, bem assim como do seu vasto património, que não está claramente a servir as classes que deveria
proteger.
Só mediante tal estudo, rigoroso e desprovido de parcialidade, teremos as informações que consideramos
absolutamente essenciais para um processo de tomada de decisão consciente e informado, passível de uma
avaliação de potenciais vantagens e desvantagens de uma tal integração.
Pior do que tomar esse passo sem o conhecimento cabal do que poderia estar em causa, seria introduzir um
sistema misto, que poderia deixar, a muito curto prazo, os beneficiários da CPAS sem qualquer proteção ou
alternativa e sem que fossem acautelados os direitos de quem integraria o regime geral.
Entendemos, ainda, que os problemas destes profissionais não se esgotam na sua Caixa de Previdência.
Por isso mesmo, para além da nossa proposta de recomendação da realização de um estudo sobre a viabilidade
da integração da Caixa de Previdência dos Advogados e Solicitadores na segurança social, trazemos, também
hoje, um projeto de resolução, que urge que se faça a defesa da valorização dos advogados, advogados
estagiários e solicitadores que se encontrem a prestar serviços de proteção jurídica.
Para tanto, recomendamos ao Governo que atualize o valor da unidade de referência englobando o valor da
inflação, recomendando, ainda, que compense os anos de congelamento da tabela de honorários, cuja
atualização foi absolutamente indigna.
Em suma, defendemos um justo e adequado pagamento de honorários e despesas destes profissionais.
Acreditamos que os atores que, de facto, auxiliam a justiça — e cuja importância enquanto pilar fundamental
no nosso sistema democrático não devemos menosprezar — precisam de boas condições para que possamos
todos usufruir do bom funcionamento desta. E isso não se faz sem se recuperar o caminho da valorização e da
dignificação destes profissionais.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada não inscrita
Cristina Rodrigues.
A Sr.ª Cristina Rodrigues (N insc.): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Saudamos os peticionários
por terem trazido este tema a debate, que acompanhamos com duas iniciativas.
A crise sanitária e social sem precedentes que vivemos tornou ainda mais evidente as fragilidades da CPAS
e a sua incapacidade de responder aos problemas dos beneficiários. Ao contrário dos restantes trabalhadores
independentes, os advogados, solicitadores e agentes de execução não beneficiaram de apoios financeiros,
tendo, inclusive, de continuar a pagar as suas contribuições à CPAS. A mesma CPAS que grita aos sete ventos
que é sustentável, que gera milhões de lucros, que tem uma grande almofada financeira, mas que não foi capaz
de aceder aos pedidos — em alguns casos desesperados — dos seus beneficiários nesta fase.
Mas, na verdade, os problemas da CPAS são muito anteriores à pandemia. Inclusivamente, o Tribunal
Administrativo e Fiscal de Coimbra já considerou inconstitucional a presunção de rendimentos que a CPAS
aplica, por violação do princípio da igualdade, nomeadamente na vertente da capacidade contributiva.
O sistema atual é cego e exige demasiado daqueles que menos podem, levando mesmo ao abandono da
profissão por quem não tem capacidade de pagar a contribuição de 251 € mensalmente.
Por isso, apresentámos um projeto de lei, que visa garantir aos beneficiários a possibilidade de escolha entre
a CPAS e a segurança social.
Um inquérito realizado pela Associação Portuguesa da Advocacia em Prática Individual, a 500 associados,
revelou que 55% querem ter a possibilidade de escolha entre a CPAS e a segurança social e que apenas 0,7%
pretende manter-se na CPAS.
Também a OSAE (Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução) já realizou este debate e os
resultados demonstram exatamente o mesmo.