I SÉRIE — NÚMERO 41
28
a futura retoma, também questionamos se não estará o Governo a encolher de tal forma a TAP que a tornará
pequena demais para quando a atividade voltar a níveis comparáveis a 2019.
Portanto, não é possível aceitar este plano e ainda menos a forma como foi feito.
O Governo optou por fazer o jogo cínico de colocar os trabalhadores a terem de optar se preferem cortes
salariais ou despedimentos. O Governo não os quis ouvir sobre as formas de ajudar a empresa, mas agora quer
responsabilizá-los sobre os cortes que o próprio Governo decidiu. Não é aceitável nem é um plano que defenda
efetivamente a TAP.
Mas há algo que não esquecemos. É que se a pandemia veio trazer uma situação difícil para todo setor da
aviação civil, também é verdade que a gestão privada da TAP deixou marcas que ainda hoje se sentem. A
história da privatização da TAP e as suas consequências não é nova. Sucessivos governos, ao longo de
décadas, entre PSD, CDS e PS, tiveram, em momentos e de formas diferente, parte nos debates e decisões
que levaram a TAP à situação em que se encontra.
Em 2015, o Governo PSD/CDS fechou o processo de privatização da TAP, mesmo depois de saber que não
se manteria no Governo. Esta privatização foi um negócio desastroso para o Estado, mas foi, isso sim, um
excelente negócio para os privados.
David Neeleman acabou por conseguir recuperar a sua própria companhia aérea, a Azul, à custa da compra
da TAP, mantendo o Estado e a banca nacional como garantes do negócio quer no que se refere ao passivo,
quer o que se refere à dívida, entretanto renegociada.
Na verdade, desde 2015 que há várias opções da gestão privada que foram deixando dúvidas: a relação que
a gestão privada manteve com a companhia Azul, ao nível do leasing de aviões; as perdas geradas ao longo de
anos pela operação de manutenção e engenharia do Brasil, a decisão de sobredimensionar a frota de aviões
bem acima do delineado no plano estratégico acordado com o Governo.
Portanto, consideramos que é fundamental levar a cabo uma auditoria à gestão privada, como, aliás, já
tínhamos proposto anteriormente, para aferir as responsabilidades das más decisões que foram tomadas e,
caso se justifique, avaliar uma possível indemnização ao Estado.
A defesa da TAP e dos seus trabalhadores não está desligada desta necessidade de transparência.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Transparência e rigor são fundamentais neste processo, agora mais
do que nunca, para podermos ter uma TAP robusta, capaz de responder aos desafios e que conte com os seus
trabalhadores.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Silva.
O Sr. Carlos Silva (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A TAP é uma espécie de tragédia grega
sem fim à vista, em que o Estado quis ter 50%, ser maioritário, e os privados saíram a ganhar, garantindo que
não perdiam o dinheiro lá investido.
Os portugueses vão lá colocar 3000 milhões de euros e não têm garantia de que a TAP seja viável no futuro.
Não existe qualquer racional que nos diga que a TAP é sustentável a prazo e se servirá o interesse nacional.
O Governo, o PCP e o Bloco, em 2016, por opção ideológica, nacionalizaram a TAP e, através desta medida,
emblemática politicamente, tornaram o Estado e os portugueses responsáveis por prejuízos infindáveis na TAP.
Por isso, Srs. Deputados do PCP e do Bloco, não se escondam por trás de projetos de resolução; foram os
senhores, também, que colocaram este fardo às costas dos portugueses.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Carlos Silva (PSD): — O Ministro Pedro Nuno Santos, empolgado, de megafone em punho, numa
cruzada ideológica, carregou, durante dois anos, impropérios sobre a gestão da TAP e prejudicou severamente
a negociação de melhores condições para a TAP em Bruxelas.
Foi já obrigado a colocar lá 1200 milhões de euros sem qualquer escrutínio para impedir que a TAP feche as
portas de imediato, ao mesmo tempo que, numa espécie de dono disto tudo, resolve oferecer um bónus de saída
ao único acionista que, ainda assim, com muitos defeitos, era o único que sabia do negócio de aviões, pagando-